Sexta-feira. Chego em casa, janto e me
sento no escritório para escrever um conto.
Silêncio lá fora. Muito silêncio.
Inusitado. O que estaria acontecendo?
Estico um olhar preguiçoso para a rua,
em direção à Princesa Isabel. Estou sempre acompanhada por um ruído longínquo
de um trânsito apressado. Afinal, são ainda 20 horas, o trânsito deveria estar
intenso, pessoas apressadas transitando em busca de suas residências. Mas a rua
também está silenciosa demais. Dou uma olhada desconfiada para fora. Vagas para
carros ao longo da rua! Isso não existe. E não está com cara de que o mundo vai
acabar...
De repente, deu-se a luz: Ah! É
carnaval, outra vez.
É que, ao contrário do que muitos
pensam, o Rio não é um furacão total no carnaval. Não. Ele se espalha pela
cidade, sim, mas não por toda a cidade. Há cantos, como esse, que, ao contrário
do cotidiano, se esvaziam.
Fiquei pensando: por que será?
Fiz uma retrospectiva da semana. Nossa
rua tem um bloco, um bloco com direito a desfile de rua e tudo. No sábado
anterior ao carnaval, via de regra, começa a bagunça. Você anda duas quadras em
direção à praia e encontra a "galera" vendendo camisas do bloco para
ajudar nas despesas do dia seguinte. Então, eu já sei: domingo antes do
carnaval é que se dá o carnaval na minha rua. E vai das 16 às 22 horas.
Certinho.
Meu barulho de carnaval, tem hora
marcada. Quase religiosamente.
Para viver a festa, é preciso andar em
direção à praia ou esperar o sábado de carnaval, quando também sai o bloco da
Princesa Isabel.
Fora isso, nem sei explicar direito o
que acontece. Só sei que são os dias do ano mais tranquilos e silenciosos que
este cantinho de rua pode oferecer.
Olho em volta e vejo muitas janelas
fechadas e apagadas. Minha própria garagem está meio vazia. Notei quando
entrei. Pensei que estivessem por aí, em busca de folia. Mas... pensando bem,
estou achando que este canto de mundo escolhe o carnaval para fugir do
carnaval.
E é muito engraçado, pois fugir do
carnaval, no Rio, só se for para pegar um trânsito fora do normal, com o dobro
ou até o triplo de horas para chegar a
um lugar fora da cidade.
A Região dos Lagos fica entupida de
gente. As cidadezinhas se tornam pequenas subcapitais do samba. Não é muito
diferente a zona da Serra. Idem, idem.
Então, só se for para se enfiar no mato,
digo, sítios ou Hotéis de Repouso, tipo Hotel Fazenda. Fui num desses, uma vez.
A altura do volume do som da música na piscina desafiava a saúde de qualquer aparelho
auditivo!... Fui a outros, mas ficam tão cheios nessa época que dá até pena de
quem busca descanso, despreocupação e tranquilidade. Fora o preço. Melhor nem
comentar...
E fico aqui, brincando com meu teclado,
enquanto observo o imenso, puro e gostoso silêncio de Copacabana, que se
duplica, contraditoriamente, durante o carnaval.
As pessoas da minha rua fogem do
carnaval, quando é aqui mesmo que encontramos a maior tranquilidade. Aqui, sem
precisar sair de casa, sem trânsito engarrafado, com a praia logo ali, para desfrutar e até
sair em algum bloco, se quiser, sempre presente na avenida à beira do mar.
É incrível como morar a três quadras da
praia faz toda a diferença. Longe e perto. Acolhida e acolhedora. Uma questão
de passos.
Se acontecer, de novo, de eu me distrair com o
calendário e ouvir um silêncio diferente e
tranquilo, posso concluir:
Ah! É carnaval outra vez!...
5 comentários:
Poizé.
Nem mesmo às seis horas da manhã de qualquer primeiro de janeiro há silêncio que se vê* na véspera momesca.
Só no carnaval mesmo.
Quanto a ter pena de quem vai pruma fazenda que se diz hotel pra "fugir" do carnaval... Bem, quem vai pra lá sabe o que encontrará.
rsrs
* Sim. No meu caso, eu "vejo" silêncio mesmo. É que sou surdo, pô.
;-)
Ué... outro dia você disse que não era surdo! Estou para entender essa.
Bem, de qualquer modo, não vem ao caso aqui. O importante é curtir o melhor do carnaval... e deixar que cada um escolha como acha que é o seu "melhor"
Obrigada pelo comentário.
Você mora num pequeno paraíso, querida! E sabe como ninguém entender seu cantinho.
Acho que a maioria das pessoas que fogem da cidade no carnaval, o fazem por pura falta de opção de outras datas. Saem do caos para encontrar o caos transformado em "férias". Quem nunca entrou numa roubada dessas? Eu tenho meia dúzia delas para contar. Mas por aqui, nem se ouve falar em Carnaval :)
É,Celina, também sou da sua opinião. Já entrei nessa de procurar hotel fazenda porque eles fazem a maior propaganda de silêncio e tranquilidade... aí... os ingênuos caem na rede e passam dias infernais (rs)
Estou convencida de que achei o cantinho do carnaval (rs)
E tenho certeza de que você sempre (sempre!) encontra o seu com esse seu faro de "perdigueiro". Amo te acompanhar.
Aproveite... embora dê saudades, adoro ver você aí!
É verdade, tem coisa melhor que ir ao cinema no carnaval?
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