sábado, 16 de janeiro de 2016

AS MEIAS


Ao escrever "O melhor presente", na semana passada, 'as meias' vieram imediatamente a minha mente. E não sosseguei, enquanto não escrevi sobre elas também.

Com certeza, Denise não imaginaria que eu fosse escrever apenas sobre elas. De fato, outro dia, quando me perguntou se eu ainda as tinha, não sabia que já estavam 'escritas e fotografadas' para serem as atrizes principais de meu próximo conto.

Conto como foi:

Em 2002, tive uma intempérie pessoal que fez com que me afastasse das aulas por um mês. Estávamos em agosto, volta das férias, mas, por razões de saúde, não pude voltar imediatamente. 

Décio, meu amigo-irmão de luta, fez questão de tomar minhas aulas da graduação para que nada fosse mexido em minha vida acadêmica. Assim, por um mês, não precisaria pedir licença. Tudo nos conformes, é claro, com a Diretoria do Instituto, na Universidade. Combinei com os colegas que não deixaria de dar as aulas de pós graduação. Como eram poucos alunos e como já tinha o hábito de trazê-los a minha casa, pois os livros que necessitavam para pesquisar não existiam na biblioteca, em princípio, não acharam nada demais.

Mas, ao me verem, com certeza, notaram que eu não estava lá "essas coisas". Não falaram nada, no entanto, e marquei os encontros do mês em minha casa.

Denise, além de aluna, era uma de minhas orientandas, na época. Reservada, aplicada, compenetrada, séria. Na verdade, sempre me chamara uma atenção especial, mas sua quietude não inspirava muita intimidade.

Saiu como os outros, sem nada dizer. Na verdade, pedi que ficasse mais um pouco, pois aproveitaria o dia para uma orientação de sua dissertação, do mestrado em curso. Afinal, como orientadora, não poderia deixar de cumprir também este papel. 

Falei-lhe rapidamente sobre meu estado de saúde, mas garanti-lhe que não se preocupasse. Era coisa de um tempo e tudo estaria bem.

Não notei que ela notara a necessidade de agasalho. Eu sempre fui muito friorenta e, mesmo no inverno carioca, eu sinto muito frio. Mas, naquele dia, estava especialmente agasalhada.

Na semana seguinte, após nosso encontro, Denise pediu para ficar mais um pouco, pois queria falar comigo.

Quando todos foram embora, tirou um pequeno pacotinho de sua bolsa e me entregou. Quando abri, achei um par de meias de lã:

- Eu mesma fiz, nesta semana, para que aqueça seus pés.

Eu tenho esse par até hoje e o uso com parcimônia. Felizmente, o inverno do Rio não é mesmo rigoroso e tenho certeza de que, com o cuidado com que o trato, este par vai durar o resto da minha vida.

Uso sempre com muito carinho e gratidão, pois, afinal, não há como descrever a emoção que senti no momento e nem a que sinto, até hoje, a cada vez que o uso.

Após a brilhante defesa de dissertação, Denise transformou-se em professora universitária, com todos os louros que lhe convieram. 

Mas, o melhor de tudo, é que somos amigas até hoje!

Obrigada, Denise, por ter aquecido de modo tão especial o meu coração.

Ah... já ia me esquecendo:

Por essa, eu sei, você não esperava... mas... poderia ser diferente?

sábado, 9 de janeiro de 2016

O MELHOR PRESENTE



 Presentes. Eu começo a comprar meus presentes de Natal em agosto. É. Em agosto. A razão é simples: as pessoas são muito diferentes e, se são amigas, me esforço por dar um presente que combine com elas. Isso a gente não consegue fazer comprando tudo em dezembro, é claro.

Assim, começo a comprar em agosto. Andando pelo meu cotidiano, quando topo com um que acho que é "a cara daquela pessoa" eu compro. Já cheguei a comprar dois para uma mesma pessoa e só depois me dar conta disso. Mas não tem problema. Guardo para o aniversário. 

Acho que tenho alguns amigos que procuram comprar presentes com a "minha cara" também. E é uma delícia receber presentes com "a cara da gente" não é mesmo?

Lembro-me do dia em que ganhei um porta lápis do Décio. Ele achou que era a "minha cara" e comprou exatamente um que vive ao lado do meu computador. É o tipo do porta lápis que eu teria comprado para mim, sem dúvida. Audrey Hepburn foi uma artista que sempre me chamou a atenção e aquele filme, marcou a minha vida. Ele não sabia. Apenas achou que combinava comigo. E... como combinava!... Ele não me deu de Natal, nem de aniversário, nem de nada. Passou pela rua, um dia, viu e não resistiu. Tinha de jantar comigo só para me dar o tal "presentinho".

Foram muitos os "presentinhos" baratos ou caros que acertaram o alvo, tão acertadinho como esse.

Um passeio de balão, por exemplo, foi um desses. Já postei um conto sobre isso.

E um passeio de helicóptero que recebi quando fiz 60 anos, com um cartão enorme e uma dedicatória linda. Ainda não fui, usei o dinheiro para outra coisa, que precisava, no momento. Mas, queridos amigos, juro que este ano eu vou. E vou postar, aqui, um bando de fotos para vocês verem.

Eu faria uma lista enorme, mas teria sentido só para mim e, claro, para as pessoas que me deram. Mas acho que, no fundo, o conto perderia a essência. Vale o dito.

Adoro dar presentes que digam, realmente, alguma coisa ao presenteado. É evidente, não sei se acerto. Devo errar muitas e muitas vezes. Aliás, tenho certeza disso. Mas eu tento, com todas as forças da minha imaginação. Tomara que tenha acertado muitas vezes!

Este ano tive o privilégio de receber muitos presentinhos com a "minha cara". E nem me refiro ao Natal, pois a situação econômica deste ano não está para presentes. Mas é que a data me fez recordar o que andei ganhando no decorrer do ano. O fato é que agradeço a todos que me deram a alegria de recebê-los e sorrir por dentro.

Assim, agradeço. Não porque ache presentes importante. Meus amigos, por si só, são presentes na minha vida.

Mas... por saber que muitos deles, como eu, passam pelo cotidiano e acham, justamente, o que combina comigo. Não é o preço, não é a obrigação de dar, pois isso, entre nós, sei que não existe. É o simples fato de mostrar que me conhecem mais do que poderia imaginar.

E isso é bom. Muito bom!