sábado, 23 de fevereiro de 2013

AMOR DE PAI





Apesar de todas as intempéries, fui especialmente brindada por certos amores. Refiro-me a todas as espécies de amores. Mas, hoje, de forma pontual e agradecida, brindo a vida pelo amor de meu querido primo Manuel.

            Se você leu o conto “Golpe de Mestre” sabe a que me refiro. Se não leu e quiser conhecer melhor essa estrela de minha vida, vale a pena fazer uma visitinha ao texto, escrito em 03 de abril de 2010 (http://blogdaeulalia.blogspot.com.br/2010/04/tudo-comecou-quando-vi-o-filme-golpe-de.html).

            Primo Manuel teria feito aniversário no último dia 20, quarta-feira. Para mim, sempre fará aniversário neste dia, pois está vivo, vivíssimo em meu coração.

            Estive para escrever sobre ele desde o ano passado, quando soube de seu falecimento. Uma gracinha de neta me deu a notícia, numa carta tão amorosa quanto as que dele recebia. Tentei escrever sobre ele várias vezes, sem sucesso. Manuel é muito maior que as palavras e, por mais que tentasse, meus dedos ficavam imóveis no teclado.

            Guardo Manuel não como um primo, mas como um verdadeiro pai que tive, durante uma vida muitas vezes bastante atribulada. Morando em Portugal e eu aqui, não havia mês que eu não recebesse uma carta (a não ser quando ele ficava doente...), como pai zeloso e carinhoso que busca notícias da “filhota” distante. Assim, de 1985 para cá, quando nos reencontramos mais efetivamente, consegui juntar mais de uma centena de cartas. Todas foram, naturalmente, respondidas com o mesmo amor caloroso e filial.

            Tenho-as em uma caixinha, especialmente guardada para este fim. Não sinto vontade de ler nenhuma, pois me parece totalmente dispensável. O sentimento que ele fez florescer já é combustível bastante para o resto da vida., sem necessitar de suporte material. Guardo-as por respeito, por amor, por dedicação singela.

Não sinto dores, acho que ele nem “permitiria”. Sinto a saudade de sempre. A saudade da distância, daquele abraço gostoso e cheio de vida. A melhor maneira de reproduzi-lo seria repetir o que escrevi naquele conto:

“Dali para o abraço, não houve tempo ou espaço. Não importava o mundo, importava o encontro... e nós dois sabíamos o que habitava ao fundo, sem palavras. Num relance, ainda na entrada, ao vislumbrá-lo, confirmei apenas que nunca teria havido qualquer dúvida em meu coração.

Nos sentamos frente a frente, silenciosos, cúmplices, atores do drama, peças principais. Meu pai se tornou pequeno, motivo, instrumento, jargão. O mundo se tornou ínfimo diante da grandiosidade daquele homem, trinta anos mais velho do que eu... poderia ter sido meu pai. Sua alma sempre quis ser meu pai. E esse era o olhar que se desprendia dele para o meu rosto, conferindo a cria, que carregara no colo. Suavidade e doçura de aldeão, semi-analfabeto nas letras, PHD em tudo mais. Eu teria ficado assim, embevecida diante da grandiosidade daquele homem horas a fio. Eu não me mexeria, se ele não se mexesse. Acho que ficamos assim, esperando um ao outro, por algum tempo.”

Manuel me dizia que morou no Brasil quando eu tinha cerca de 2 ou 3 anos de idade. Quase trinta anos mais velho do que eu, seus olhos marejavam de lágrimas, quando me dizia que tinha me carregado no colo muitas e muitas vezes e que me via adulta, com orgulhos de pai.

E foi ele que me pediu, na década de noventa, que lhe enviasse um retrato recente. Para me fazer uma surpresa, sua carta seguinte me brindou com a foto que você vê encimando este conto. Ele era assim: singelo, doce, verdadeiro, amoroso, gentil.

Por mim, estaria desde já acertado: “Na próxima, topa ser meu pai de verdade? Assim, a gente não corre o risco de ter de viver tão um longe do outro...”

Da estrela onde mora hoje, sei que olha pelos seus... e sei que olha também, com o mesmo olhar meigo que sempre conheci, por esta “filhota” brasileira.

Parabéns priminho querido! Pela vida, por sua alma valorosa e gentil, pelo brilho interior...

E... mil vezes obrigada pelo amor verdadeiro que conheci através de você!!!

sábado, 16 de fevereiro de 2013

ASSIM NÃO DÁ!



Quando não é o descaso do governo,

é a falta de educação de nosso  povo...


E continua muito difícil assegurar a acessibilidade em nosso país...


Fotos:
Centro da cidade de Campinas – São Paulo (acesso para cadeirantes)
Estacionamento de uma universidade pública do Rio de Janeiro (vagas para cadeirantes obstruída).

sábado, 9 de fevereiro de 2013

PALHAÇOS





Quanto riso... oh!... quanta alegria,
Mais de mil palhaços no salão...
(Máscara Negra)

Palhaços...

Antigamente, os palhaços apareciam às multidões, nos carnavais e nos circos.
Nos carnavais e nos circos. Apenas.

Agora, quando compramos um nariz de palhaço, é para participarmos de passeatas contra a corrupção, contra os desvarios políticos, contra as injustiças sociais, para lembrarmos que estamos ali de palhaços, embora não queiramos sê-lo...

Os palhaços vão deixando de simbolizar a alegria das multidões para se transformarem em nós mesmos, o sustento e a alegria da nobreza política e corrupta de nosso país... “mais de mil palhaços”... milhões...

Não há mais circos... não como os de antigamente, quando nos esbaldávamos de rir do Arrelia e  do Carequinha...

- Vocês querem goiabada?
- Não!  Não, senhor...
- Vocês querem marmelada?
- Queremos sim, senhor...


Não há mais desses circos... “nós” somos os palhaços do circo!...

E não há mais daqueles palhaços dos carnavais, que brincavam pelas ruas com a criançada, empenhados em fazerem sorrir rostos ingênuos e felizes...

Cara de palhaço, pinta de palhaço, roupa de palhaço...
Foi esse o meu amargo fim...
(Palhaçada)

É o “nosso amargo agora”... só espero que não seja o “nosso amargo fim”!...


Referências das músicas:
Máscara Negra – Zé Queti
Refrão popular de palhaços de circo
Palhaçada – Haroldo Barbosa/ Luiz Reis

Foto: Quadro - Palhaços, de Jennifer, 1975 (Brasil)