sábado, 26 de maio de 2012

AVE, DEUS


Morituri,
no transito desesperado
das ruas
e dos corações descompassados,
Te salutant.

(setembro de 1976)

sábado, 19 de maio de 2012

É BOM



Outro dia li um texto que citava Nelson Mandela: Não há nada como regressar para um lugar que está igual para descobrir o quanto a gente mudou.

Fiquei perambulando com essas palavras na cabeça, quando estava passeando pelo Jardim Japonês nessa breve viagem de descanso a Buenos Aires.

Eu estivera ali, pela primeira vez, em finalzinho de 2004, atrás de um mestre de Reiki que conhecera através de leitura de livros - Frank Arjava Petter, Arjava Sensei - que, aliás, foi o que escolhi para me orientar em minha atual vida profissional, depois de conhecer vários outros mestres.

Passeava pelo jardim e a frase passeava comigo. Ali estava, agora, no início de 2012, depois de pouco mais de 7 anos. O Jardim era o mesmo: bem tratado, silencioso, aconchegante. Tudo igual. Um belíssimo igual.

Senti-me sorrindo em meu passeio, parando aqui e ali, pelas mesmas veredas, tirando fotos parecidas... mas... em ângulos diferentes. O olhar é diferente. A forma de respirar o ar de translucidez e aconchego é diferente. A luz que brilha de fora para dentro, entra diferente.

Quantas pessoas dizem que já aprenderam tudo que tinham de aprender na vida, já viram tudo que tinham de ver e que já sabem de tudo que precisavam saber...

Ali, me senti gostosamente aprendiz. Sessenta e um anos e... aprendiz. Mudei muito nesses sete anos. E espero mudar mais.

Sentei-me na ponte, imitando o mesma posição de há sete anos atrás. Uma “mesma gentileza” fez com que houvesse “outro anjo” para tirar a “mesma foto”.



Mas eu sabia que aquele “invólucro físico” havia mudado muito por dentro. Penso que para melhor.

Por isso, a foto continua revelando um  sorriso "igual", só que, para mim, ao mesmo tempo, secreto e revelador.

Não há nada como regressar para um lugar que está igual para descobrir o quanto a gente mudou.

sábado, 12 de maio de 2012

O GARI E A ROSA


Outro dia, estava falando sobre uniformes e o que representam publicamente. Cumprimentamos a pessoa ou o uniforme? E quem nos responde é a pessoa ou o uniforme? Se você leu o conto “Uniforme” sabe a que me refiro.

Eu não sei o que dá na pessoa que usa o uniforme... talvez investida do sentido do que é o “público” e, colocando-se no lugar do “confiável”, responda ao cumprimento.

Ou será que não?

Lembrei-me, nesta semana, novamente do conto e ele me trouxe outra singela lembrança.

Dia desses, eu estava para atravessar a rua. Coincidiu com a passagem de um gari, a meio fio, varrendo o lixo e o colocando em seu carrinho. Eu, distraída e na expectativa do sinal verde da Barata Ribeiro, rua quase sempre muito movimentada, esqueci meu olhar em seu trabalho. Foi quando nossos olhares se cruzaram. Sorri-lhe. Ele me sorriu de volta. Fiz-lhe um ligeiro aceno com a cabeça, pois estávamos distantes para um cumprimento ao som da voz. Ele me sorriu, buscou algo guardado ao lado da lixeira. Era uma rosa vermelha. Aproximou-se de mim e me deu um delicioso bom-dia acompanhado da flor:

- Estava guardando para dar a alguém como a senhora. Bom dia.

Agradeci-lhe a gentileza, surpresa e sorridente. O sinal abriu e nos despedimos:

- Bom trabalho!

- Bom dia, que Deus a acompanhe.

Deus e a rosa, pensei... e também a lembrança do gentil cavalheiro. Atravessei. A rosa, provavelmente, tinha sido colhida em alguma esquina, um canto perdido nas ruas dessa cidade variadíssima em seus cultos à natureza, provavelmente, para algum "santo". Mas não importava. Um gesto como esse, tão puro e delicado, enfeitiça sempre meu coração, eternamente encantado com essa cidade e seu povo.

Mas outra faceta, indubitavelmente se impôs: não sou religiosa, mas cuidados e respeitos eu tenho. Não acredito em bruxas, mas...

Assim, ainda feliz com o ocorrido, mas respeitando as bruxas em quem “não acredito”, andei até o calçadão, escolhi uma árvore e depositei a rosa delicadamente a seus pés.

Depois, segui com a lembrança do gesto do delicado cavalheiro, satisfeita com as gentilezas que, inesperadamente, esta cidade pode nos oferecer e com a discreta sensação do perfume de uma rosa vermelha enfeitando meu coração.

domingo, 6 de maio de 2012

LOGO ALI



Dizem que "quem corre por gosto não cansa". Cansa. E muito! Talvez até canse mais porque a gente se dedica muito. E, como se dedica, não se dá conta de que precisa parar, até que o alarme toca.

O meu tem tocado desde o começo do ano incessantemente e, então, na primeira brechinha, fugi. Tinha de ser pouco, por enquanto, para um lugar “logo ali”, mas que eu gostasse muito.

Buenos Aires! Minha bússola apontou para lá quase sem que eu percebesse, para onde já fui quatro vezes, sempre em busca de cursos e pouco passeio. Lá conheci meu atual mestre de Reiki, Arjava Sensei, em 2004 e voltei, em 2005, por sua causa. A terceira foi para um curso abortado, que larguei pela metade, com outro mestre de Reiki que prefiro não nomear. Mas voltei no ano passado, outra vez, por Arjava Sensei. Curso tão bom que não deu nem para respirar um pouquinho da cidade. Fiquei devendo.

Então, meu “logo ali” foi para Buenos Aires, essa cidade encantadora para meus olhos e meus sentidos. O ar da cidade, a música, os espaços... a luz... o tango! Ah... o tango... que aguça o meu amor pela dança. Desta vez ainda não deu, mas volto para umas aulas, ah, volto.

Escondi-me lá, por cinco dias, caminhando pelo jardim japonês,



pelo Rosedal (Jardim das Rosas), florido em qualquer época do ano,





pelo Café Tortoni, tradicionalíssimo na cidade,


pelos museus,



pelas livrarias,




pela cidade.














Foi só um “logo ali”. Mas volto, querida cidade, para reverte-te em teus delicados meandros, a gentileza portenha tão contestada por alguns, mas ratificada por mim a cada contato, a cada cavalheirice encontrada em cada passo. Os homens, sabe, ainda estão acostumados a dar passagem às mulheres (!), dão-lhe o lugar, sorriem gentis... as pessoas, não só as que te atendem por turismo, mas os portenhos comuns mesmo, muitas vezes dão bons dias, em vez do habitual buenos dias (ou “buenas”), por pura gentileza de anfitrionato e não porque estejam nas lojas, que, aliás, como você sabe, frequento pouco.

Sentar-se sem pressa em um café, bem à moda europeia, para estender o olhar e esquecer-se da vida, sem que o garçom venha apressado lhe cobrar a mesa...

Caminhar pelas avenidas espaçosas, com seus monumentos portentosos, a cidade limpíssima, bem cuidada, com um metrô (o “Subte”) super competente e viável mesmo na hora do rush... 

Espaços livres para o sonho, o descanso, a contemplação.

Ah, Buenos Aires!

Si... te quiero, te quiero mucho.   Gracias!