sábado, 19 de março de 2011

DIGA-ME COM QUEM ANDAS


Na verdade, não sei com quem ando. Sei que ando. Comecei a andar muito cedo, por volta dos 11 meses, segundo dizia a minha mãe, e acho que não parei até hoje.

Com quem ando... com quem andei... nossa... já andei com tanta gente, dos mais variados tipos e jeitos...

Às vezes, paro para pensar nessas coisas...

Já andei com o Reginaldo, aquele aluno “marginal” da escola na zona rural do Município do Rio, onde comecei a dar aulas, assim que me formei. Não sei se você se lembra... o do conto “Reginaldo” . Um “marginal” que me ensinou que confiança está nos olhos e no coração, longe do preconceito.

Andei por favelas (hoje chamadas comunidades) em minhas pesquisas sobre desenvolvimento cognitivo em crianças carentes... lá fiz amizade sincera com pessoas que nem sabiam escrever, que punham seus filhos no cercado junto aos porcos quando saíam para trabalhar porque não tinham com quem deixar... que comiam com as mãos, pois não tinham talheres. Eu PHD e eles analfabetos, me ensinando tanta coisa sobre a cartilha da vida... entrava e saía com passaporte livre, pois “a professora veio pesquisar” . Eles sequer sabiam o que era “pesquisar”, mas a confiança do olhar e o passaporte da amizade diziam tudo e ninguém mexia comigo...

Andei às avessas, com gente do escalão universitário, muitas vezes lutando por direitos humanos até descobrir que para eles isso era só uma fachada a que pouco davam importância... alguns deles apenas se aproveitando da situação para engendrarem lutas políticas para engrandecimento pessoal...

Andei com cocotas em festas socialite me perguntando “o que eu estou fazendo aqui?”.

Andei por aí, meio sem rumo, com pessoas que pouco conheci... tantas vezes buscando os significados da vida...

Andei com místicos para descobrir que não eram tão místicos...

Andei com céticos para descobrir que não eram tão céticos...

Andei só... andei acompanhada...

Como você definiria o que sou? Com quem será que andei, senão comigo mesma durante todo esse tempo, que possa definir o que sou, sozinha ou acompanhada?...

Engraçado... isso era para ser um conto...

6 comentários:

Valéria Hinojosa disse...

Olá, Eulalia, estava aqui rascunhando um texto sobre Identidade quando recebi de
primeira mão sua nova postagem.
Menina, se isso não é sintonia,
me ensina então o que é!
Despojei-me durante essa leitura.
O resto dispensa palavras!
Beijo carinhoso. Valéria

Anônimo disse...

Definir você?!!! Sem chance!!! Pois justamente essa indefinição é o que faz a possibilidade de andarmos juntos ...
bjs, sempre, minha amiga,
décio

Celina disse...

É que andar é como um rio. Toda vez que o rio anda por um mesmo lugar, já é tudo diferente... O rio traz coisas diferentes para um mesmo lugar que já mudou... Que bom que é assim, se não a gente não aguentava andar com a gente mesmo!
Amei, querida!

Virgínia Bravo disse...

essa diversidade do seu caminhar é que faz exatamente quem você é!talvez por isso te gosto tanto! bjsss Vi

pblower disse...

O que somos?... Quem somos?... Não importa tanto. O que importa é andar, se não cria limo e aí a gente fica escorrecagadia.

muitos beijos

pblower disse...

Complemento: Amei o texto!!!

Sequinho, ágil, lúdico e revelador. Quase poesia. Pra além da prosa.

Bom demais!