domingo, 2 de maio de 2010

DOGMAS E CRENÇAS


Muita informação para uma menina que acabava de entrar num internato. Minha prática religiosa se resumia a eventuais missas dominicais, levada pela minha mãe e uma prece noturna automatizada e não explicada a um anjo da guarda com quem deito e levanto, com a graça de deus e o divino espírito santo. Sabia também rezar a ave maria e o pai-nosso, não me lembro se completos.

Virgem assim dos conceitos religiosos, fui logo encaminhada para a classe especial de preparação para a primeira comunhão, pois já estava com sete anos, caminhando rápida para os oito, tão logo entrara no colégio.

Ah, a psicologia humana!!! Logo na primeira aula, a freira cismou de dizer que, se fossemos boazinhas, quando morrêssemos, iríamos direto para o céu, onde passaríamos a eternidade na santa contemplação divina.

Eu não queria ir para o céu, ficar sentada pelo resto da minha vida ali, quieta, olhando pra Deus. Ao confessar isso, não sabia do desastre que estaria causando e de todos os sustos que se seguiram. Fui retirada imediatamente da sala, a caminho do gabinete da senhora superiora (assim era chamada a irmã diretora do colégio), como alguém que deveria ser afastada do santo retiro monasterial imediatamente.

- Essa menina não pode conviver conosco, colocando em risco a fé de suas colegas, as verdades divinas, os sacrossantos dogmas que salvam nosso espírito das chamas infernais.

Eu nem sabia o que estava significando aquilo tudo, mas percebia que, pelo visto, eu estava me transformando numa ameaça social. E das graves. Os olhares das freiras, no entanto, não poderiam estar tão assustados quanto os meus, pelo tanto que me lembro da situação, no meio daquelas desconhecidas, mal entrara no colégio, sem entender o que estava acontecendo. Eu não sabia que crime cometera. Eu disse o que me parecia decente e óbvio. Será que elas gostariam de ficar sentadas sem fazer nada, pelo resto da eternidade, olhando para aquele olho dentro de um triângulo, que eu vira no livro de catecismo? Se é que eu sabia o que era a eternidade...

O capelão do colégio, o monge beneditino que acompanhou oito, dos meus dez anos de internato, foi chamado às pressas e, depois do susto inicial, conseguiu resolver a situação, não sem muito trabalho. Lembro-me de seu sorriso condescendente, de sua voz calma, grave, suave, dizendo que eu era apenas uma criança.

Segundo a catequista, no entanto, eu era uma criança que, a seguir por aquele caminho, seria uma ameaça para os dogmas da Igreja. Lembro-me bem dessa freira, olhos sempre amedrontados andando pelos corredores do colégio, incapaz de nos olhar de frente, como se o mundo conspirasse para lhe armar algum ardil. Pobre criatura. E ela tinha sido designada para cuidar de minha formação religiosa, antes que eu pudesse acompanhar as classes normais, com as demais da minha turma. Explico melhor: eu estava no segundo ano escolar e, portanto, um ano atrasada no que se referia aos ensinamentos divinos. Ademais, estava tendo essas aulas com meninas um ano mais novas do que eu e, portanto, exercendo uma péssima influência de irmã mais velha na formação das mentes desses anjinhos infantis.

Estava claro que ela não me considerava anjo algum. O que será, então, que eu seria? Não tinha coragem de perguntar.

Depois de muita contestação, fui acatada novamente, sem precisar da chamada de meus pais ao colégio. Para que você entenda o que isso significa, chamar os pais ao colégio por alguma causa provocada por comportamento era gravíssimo e só ocorria em última instância. Não me lembro de pais que fossem chamados ao colégio com muita freqüência, em meus dez anos de internato. Talvez, quem sabe, umas duas ou três vezes, no máximo, em relação a colegas que tinham enfrentado códigos de ética gravíssimos. Para nós, humanos comuns, esses códigos eram baseados, muitas vezes, em imbecilidades inexplicáveis, mas gravíssimos na sede religiosa da perfeição. Como exemplo, beijar o namorado na quermesse. Lembro-me, até hoje, da aluna em questão, expulsa no mesmo dia: Beth 109.

Quando havia mais de uma aluna com o mesmo nome em uma turma, agregávamos ao nome, o número de internato. Na época, na nossa turma, tínhamos a Beth 5, a Beth 6 e... a Beth 109. Linda menina, lindo namorado. Espero que tenham se casado e sido muito felizes, pois, pelo que me lembro, amavam-se como dois pombinhos.

Mas ainda estou com sete anos, beirando os oito e com um problema religioso a ser enfrentado. Continuaria no colégio, mas... o que fazer com a minha língua? Ficou ali mesmo decidido que eu estaria para sempre proibida de abrir a boca nas aulas de religião. A senhora superiora da época, de olhar não raro amedrontador, foi bem explícita:

- Você não poderá falar nada nas aulas de religião desde hoje até sair do colégio. Limite-se a apenas responder, quando lhe for perguntado.

Assinado o “edital”, com o lacre de fogo da voz da senhora superiora, o padre sorriu, a catequista olhou-me com olhar revoltado e eu fui encaminhada de volta a minha turma, com a primeira lei do meu código de ética registrada em meu cérebro: ”silêncio nas aulas de religião”. Sempre fui disciplinada, para não dizer obediente, em ordens desse tipo. Para mim, eu tinha violado princípios. Não tinha muita idéia do que eram, mas tinha consciência da gravidade da infração.

O que elas não sabiam é que tinham inaugurado, em mim, o maior e melhor princípio filosófico que levei pelo resto de minha vida: um espírito crítico rigoroso sobre dogmas, fossem religiosos ou não. Eu não podia falar, mas esta proibição aguçou meu espírito e meu senso crítico. Se eu não podia falar, talvez eu fosse capaz de fazer perguntas embaraçosas e, se eu era capaz de fazer perguntas embaraçosas, talvez os dogmas fossem coisas que ameaçavam as crenças. E, se ameaçavam as crenças, talvez não fossem tão fortes e consistentes. Se não eram tão fortes e consistentes... bem, é evidente que isto não estava assim tão claro em minha cabeça infantil, mas a semente do mal (no caso, o bem), estava instalada no meu coração e este primeiro confronto com o pensamento dogmático influenciou profundamente a minha formação individual dali por diante.

O que elas não sabiam e nunca passaram a saber, pois com o tempo, naturalmente, se esqueceram do castigo, é que fui fiel ao compromisso assumido: jamais, até os dezoito anos, abri a boca nas aulas de religião, mesmo quando a mestra de classe nos perguntava se tínhamos alguma dúvida. Silenciava, então, não mais por uma obrigação, mas porque estava cada vez mais convencida de que não teria as respostas que buscava. Eu entendera que não era para ter dúvidas sobre dogmas religiosos. Só não conseguiram me convencer de que era obrigada a acreditar neles. Como não falava, nem disso elas desconfiavam. E via-me livre para pensar, sobre tudo aquilo que ouvia, conversando comigo mesma. Na verdade, no fundo, não havia revolta em mim no que eu ouvia. Apenas uma análise silenciosa.

Pobre freira catequista. Agradeço-lhe de todo coração a maior lição religiosa que eu poderia ter tido, mal atravessara os sacrossantos portais da santa fé. Não fosse você, cara irmã, talvez eu não tivesse despertado tão cedo. Espero que, onde quer que esteja, passadas tantas e tantas décadas, um lugar de luz lhe tenha sido reservado por essa magnífica contribuição a minha formação espiritual. Agradecimento sincero, que espero poder fazer, quem sabe, diretamente, em algum plano espiritual, algum dia.

Isto posto, gostaria de saltar uns anos, mais precisamente, seis. Eu estava com treze e minha visão de fé continuava contestadora. Não que eu fosse rebelde. Isso não. Passara pela primeira comunhão, pela crisma, tinha sido cruzada eucarística, filha do sagrado coração de jesus, enfim, todos os quesitos sendo cumpridos, como deve acontecer num colégio religioso. Isso não me incomodava, não mexia com minhas convicções. Não gostava muito dos rituais, mas não me perturbava ser isso ou aquilo. Assistir à missa todos os dias fazia parte do meu cotidiano, como assistir às aulas, tomar banho, me alimentar, estudar, bordar, ter recreio. Tudo isso estava incorporado à rotina e rezava o terço e as ladainhas às 17:30, pensando em mil outras coisas, como acontece com crianças e adolescentes, lábios automatizados na prece.

Mas achava lindo o canto gregoriano, afinadíssimo e melodioso. Até fazia parte do coral da capela, para as missas cantadas dos domingos, que duravam duas longas horas, para deleite do padre capelão. Fazer parte do coral era uma distração, não só porque tínhamos licença para ensaiar uma vez por semana durante um dos estudos da tarde, o que já era uma concessão e desvio da monotonia diária, como também uma forma de fazer alguma coisa ativa, e ainda por cima bonita, durante a missa, no coro da capela, em vez de ficar no banco lá embaixo, assistindo à missa e tomando conta das meninas menores, que cochilavam esperançosas de que as infindáveis preces terminassem e de que a hora do café da manhã chegasse logo. Eu tinha uma bela voz e gostava de cantar. Isso não tinha nada a ver com acreditar num deus sentado lá em cima, cofiando as barbas brancas (por que não seriam ruivas, se ele é eterno?) e olhos perscrutadores, em busca de nossos pecados. Não. Tinha a ver com o encantamento do canto afinado, do conjunto das vozes que acompanhavam o melodioso órgão da capela, pela irmã responsável por nossas aulas de piano e canto. Doce irmã. Disso eu gostava.

Assim transcorreram minhas funções religiosas até os treze anos. Eu era uma menina saudável, ativa, compenetrada, estudiosa, esportista e, segundo as freiras, exemplar. Claro. Minha formação de princesa começara aos sete anos e eu servia de modelo para minhas colegas.

Só não tinham percebido que eu continuava muda nas aulas de religião.

Àquela altura, a irmã catequista não estava mais no colégio, fora transferida para outra casa, em outro estado do país. Havia rodízio sempre, principalmente, quando duas irmãs ficavam muito próximas. Nada podia ser muito pessoal. Quanto preconceito. Mas eu continuava ali, firme, quieta. Não por imposição, como lhe disse, mas porque não me interessava a interlocução.

Naquele ano, em especial, além das costumeiras críticas em meus monólogos interiores, acrescente-se que eu estava em plena adolescência. E adolescente, quando cisma com alguém, não tem jeito. Eu não gostava de minha mestre de classe daquele ano. Os santos não casavam. Contarei uma aventura por conta disso, em outra oportunidade. Por ora, digo que cabia à mestra de classe o ensino religioso da turma. E, infelizmente, para ela, numa das aulas, ela me deu, de bandeja e de presente, uma oportunidade de rebeldia religiosa incontestável. Num dos arroubos entusiásticos de fé, ela nos disse que o santo sacramento da comunhão nos transformava em sacrários vivos de Deus. Que linda metáfora, mas eu não podia deixar passar essa. Não uma adolescente! Quieta, esperei a próxima missa para dar o meu golpe. Comunguei, como todas as moças e esperei o final da missa. A saída da capela para o refeitório seguia um ritual de disciplina minucioso. As alunas eram chamadas por turma, saíam ao mesmo tempo dos bancos, aguardavam o sinal (toque suave de uma castanhola), faziam genuflexão juntas, levantavam-se, viravam-se e saíam, automaticamente, em fila. Organização impecável. Levantei-me com minhas companheiras, saí do banco e me mantive de pé. Todas fizeram genuflexão, eu não, esperei e me virei para sair. Na porta da capela, a mão da irmã coordenadora geral já esperava pelo meu braço e sua voz sussurrou baixinho.

- Você não fez a genuflexão.

Óbvio de ser percebido e eu sabia. Se todos se ajoelham e você fica de pé, é facilmente reconhecida. Sussurrei de volta:

- Não posso.

A freira retrucou:

- Machucou o joelho no treino?

Referia-se ao treino de vôlei, pois eu era do time titular do colégio, com treino oficial às terças e quintas, depois do almoço.

- Não senhora.

Olhou-me interrogativa, mas severa:

- Então, o que houve?

Ela tinha consciência de que falava com uma aluna exemplar.

- Sou um sacrário vivo, porque comunguei. Não posso fazer genuflexão para um sacrário morto.

Meu coração queria sair pela boca, mas eu me sentia uma heroína, como se estivesse fazendo cair em minha armadilha, o resumo do absurdo das convicções religiosas de anos.

- Dirija-se ao gabinete da Superiora e espere lá.

Não dei tempo para que me obrigasse a fazer a genuflexão, abaixei a cabeça e saí rápido, rumo ao meu dia de enfrentamento. Mas estava radiante por dentro, pois eu queria colocar minha mestra em cheque e, pelos deuses, tinha certeza de que conseguiria. Haveria muita confusão antes de resolver esta questão, eu estava certa disso, como toda adolescente que se preza. Até porque eu já tinha feito meu nome no colégio e elas não iriam simplesmente dizer que eu estava ali em nome do absurdo, como acontecera há seis anos atrás. A Superiora era a mesma, o capelão era o mesmo, mas eu estava certa de que o episódio de infância tinha sido esquecido e sobrara a irrepreensível aluna, modelo reconhecido por todos.

Cheguei ao gabinete da superiora, bati, não havia ninguém. A ordem era de que eu entrasse e assim fiz. Estava vazio. Não tínhamos ordem de sentar antes que alguém mais graduado nos desse permissão, ou seja, uma freira, uma professora leiga ou o padre, que eram as pessoas com quem convivíamos. Não havia ninguém do escalão, então, eu deveria ficar em pé. Isto era, tipicamente, a disciplina de um regime de internato da época. Ninguém apareceu por muito tempo. Evidentemente, todos foram tomar o café da manhã, depois da missa. Estar ali, em pé, em jejum, sozinha, era estratégia premeditada, eu sabia disso, uma forma de me fazer refletir no que havia feito, amaciar minha rebeldia para que elas entrassem na minha fragilidade. Não adiantou. Quando entraram, o fizeram em grupo, algo assim como acontece nos filmes que arremedam a Inquisição: a senhora superiora, a vice, a coordenadora geral (a tal que havia me segurado pelo braço na capela) e minha mestre de classe (a tal com quem meu santo não cruzava e que nos dava as aulas de religião naquele ano). A superiora perguntou a razão de minha atitude. Eu, com aquela cara de inocência forçada que só uma adolescente sabe fazer, expus os meus motivos: tinha aprendido na aula de religião que, ao comungarmos, nos transformávamos em sacrários vivos de Deus. Não havia razão para prestar as honras da genuflexão a um sacrário de mármore, que guardava hóstias, mesmo que consagradas. Se eu tinha uma delas dentro de mim, eu valia mais do que um pedaço de mármore.

Olharam-se. Senti que o argumento era forte. A mestra de classe ensaiou uma explicação de que se tratava de uma metáfora. Metáfora ou não, eu tinha comungado e a situação era concreta: não se justificava uma genuflexão. A superiora achou que seria interessante a presença do capelão. Será que ele ainda estaria no colégio ou já teria se retirado para o Convento Beneditino, cuja sede do Alto da Boa Vista abrigava o ancião e mais um grupo de monges que serviam à comunidade local? Claro que estava. Ele jamais desprezaria o café da manhã todo especial que as irmãs lhe preparavam e, bom glutão, o fazia sem pressa, homenageando as atenções que lhe eram consagradas. Demorou a chegar, enquanto nos acomodávamos a um silencio constrangedor. Eu estava firme, meio tonta do jejum, mas firme. O monge entrou, sentou-se e me mandou sentar. Sorriu. Mas nada me quebraria, desta vez. Sentei e ele perguntou diretamente a mim do que se tratava. É claro que ele já sabia. Teria sido contado pela freira que o havia ido buscar, com certeza. Expliquei. Encontrei, novamente, o mesmo sorriso que tinha visto há seis anos. Ele não se lembrava (ou será que se lembrava?), mas eu me lembrava. Procurou contemporizar, explicando o simbolismo do ato, que nada teria a ver com o meu argumento de sacrário vivo ou coisa do gênero. Ataquei frontalmente:

- Então, a irmã ensinou errado?

Ela, ali, à minha frente.

- Não, não ensinou errado, é uma metáfora verdadeira.

- Então, não há motivo para eu fazer a genuflexão.


Olhava para ele firme, convicta, nos olhos. Ele percebia o meu jogo, mas não tinha como desmascará-lo. O argumento era perfeito. Tentou convencer-me pelo exemplo que eu deveria dar a minhas colegas. Supondo que quem comungasse não precisasse fazer genuflexão, como saber quem comungou para ser dispensado do ato? Ademais, era um hábito da santa igreja, como um ritual consagrado, como modificá-lo? Eu firme, na minha teimosia adolescente:

- Devemos falar com o papa, com o bispo ou com alguém que fizesse ver ao Vaticano o absurdo da questão.

Não havia como me convencer e os diálogos eram interrompidos por silêncios reflexivos de todos.

Um monge, a senhora superiora, a vice, a coordenadora geral das alunas, minha mestre de classe, todos ali, sem conseguirem me dobrar. Eu já me sentia vencedora, fosse qual fosse o resultado. Não era digna de castigo, pois estava me pautando em princípios religiosos e não estava desrespeitando ninguém. Era uma discussão de fé, não uma teimosia. Lutava com as armas que eles mesmos me ofereciam. Eu era um sacrário vivo e queria defender isso pela fé à santa madre igreja e seus dogmas. De vez em quando, meu interlocutor masculino encetava algum argumento, mas nada me convencia. E todos retornavam ao silêncio. Eu percebi que eles não me concederiam a razão por nada do mundo. Estavam esperando que eu arrefecesse. Eu não sabia o que fazer. O jejum pesava na minha resistência, o tempo passava. Mas pensei que preferiria desmaiar de fraqueza e estava pronta para isso em vez de ceder. Alguma coisa teria de acontecer. Mas nada acontecia.

O barulho animado do primeiro recreio da manhã me avisou que eram nove e cinqüenta. Eu estava ali desde as sete horas e tinha me levantado às seis. Provavelmente, teria esperado em pé sozinha por cerca de uma hora até que as freiras entrassem, mais o tempo de esperar o padre chegar, as conversas e os silêncios. Eu não estava agüentando mais, até que, talvez o tal anjo do senhor com quem deito e levanto na graça de deus e do espírito santo deve ter-me inspirado.

- Já sei, retruquei.

Todos me olharam.

- Não comungo mais, assim, posso fazer a genuflexão, servir de modelo a minhas colegas, como os senhores querem e não me sentirei mal.

O monge olhou-me com a testa franzida:

- Minha filha, você não pode privar-se de um sacramento tão valioso para a alma.

Eu tinha arranjado uma saída honrosa para a situação, não poderia deixar escapar:

- Não faz mal, Deus sabe de minhas intenções e, sempre que sair do colégio (tínhamos saídas para visitar os pais, nos finais de semana), vou à missa e comungo. Lá ninguém notará que não faço genuflexão.

Acho que o monge também não quis perder a oportunidade de livrar-se da situação melindrosa. Aliás, ninguém ali queria. Então, ficou acertado que eu me deixaria guiar por minha consciência, diante de deus nosso senhor e que o que fizesse fosse feito numa ação fervorosa e cheia de fé. Acedi. Foi-me concedida licença, então, para sair, passar pelo refeitório para pegar uma fruta e seguir para a sala de aula.

Daquele dia em diante, até os dezoito anos de idade, nunca mais comunguei no colégio e nunca mais fui importunada por isso. E como a comunhão estava atrelada à confissão, me livrei de uma só vez, da “obrigatoriedade velada” que existia sobre nós em relação a esses dois sacramentos.

2 comentários:

Virgem Casa 6 disse...

Sensacional! Todo Sol/Marte acharia um saco ficar a eternidade sem fazer nada. A resistência vem de Touro. Mas, a genialidade pra se livrar de comungar vem da alma mesmo!

pblower disse...

Este blog está o máximo!!!!

beijocas

pat