Minha ida a Buenos
Aires para passar um "rato”*, deu aquele tipo de
suporte de que precisamos ter, vez por outra.
Mudar os rumos das
caminhadas, relembrar lugares de sonho percorridos é do que minha alma e meu
corpo precisam, nos momentos mais desavisados.
Se você leu o conto “Logo
ali” sabe o quanto Buenos Aires me seduz.
Cheguei ao hotel às 15
horas e deixei a pequena mala jogada na cama. Com “ganas” de sorver a alma
deliciosa da cidade, saí como estava, em direção a Puerto Madero. Depois, caminhar, tirando as fotos que tanto amo, passando por
lugares conhecidos, descobrindo outros, sem pressa, a pé. Uma caminhada que me
tomou cinco horas seguidas, sem que eu me desse conta.
Tempo para confiar na resistência
do corpo, descansar a alma e deixar que o pensamento solto, neste primeiro dia
de pequenas férias, seguisse seu rumo sem direção. Nestes momentos, na verdade,
o rumo certo é mais para dentro de mim mesma do que para fora. Com o encantamento de um lugar que se ama então...
Foi com essa sensação
de calma e abandono do estresse do cotidiano que a linha de ferro de Puerto
Madero me surpreendeu. A linha, o trem, o momento... tão rápido como o
pensamento, tão agudo quanto um relâmpago.
Invadiu-me um ditado
popular saído não se de que cartola do meu inconsciente: “uma luz no fim do túnel”.
Não havia túnel ali,
mas havia a linha, havia o trem.
Quantas vezes me deparei com o complemento
funesto deste ditado: “quando viu uma luz
no final do túnel, era um trem em sentido contrário”.
Quantas e quantas
vezes, para todos nós, esta suposta luz nos iludiu e nos atropelou. A mim,
muitas... muitas...
E eu estava em Buenos
Aires, na linha do trem e com um trem. E tudo se esclarecia como num relâmpago
de luz.
Onde quer que se esteja,
quando um trem vem em sentido contrário, não tem jeito: é deixar passar.
Se focarmos nossa
imagem apenas no trem, não conseguiremos ver senão a ele (e não a linha que,
por trás dele, se esconde), um trem que oculta, por momentos, nossa direção.
(Obs.: * "rato" - tempo curto, rápido)
5 comentários:
Amei!! Caminhar e viajar é preciso!! Libertar a alma!!
Miriam
Amei!! Caminhar e viajar é preciso!! Libertar a alma!!
Miriam
Que delícia 1- minha alma viajante ama saber que outra alma viajou também
2-que depois que o trem passa, a linha continua lá! e a luz no fim da linha ou do túnel, reaparece!
3-que a vida é assim mesmo. uma viagem, ora o trem passa por cima, ora a gente está dentro do vagão.
bjs
Essa de dentro do vagão eu nunca tinha pensado. Conviver contigo é aprender sempre, querida!
Grande texto! Grande final!
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