sábado, 5 de janeiro de 2013

QUANDO O TREM...


Minha ida a Buenos Aires para passar um "rato”*, deu aquele tipo de suporte de que precisamos ter, vez por outra.

Mudar os rumos das caminhadas, relembrar lugares de sonho percorridos é do que minha alma e meu corpo precisam, nos momentos mais desavisados.

Se você leu o conto “Logo ali” sabe o quanto Buenos Aires me seduz.

Cheguei ao hotel às 15 horas e deixei a pequena mala jogada na cama. Com “ganas” de sorver a alma deliciosa da cidade, saí como estava, em direção a Puerto Madero. Depois, caminhar, tirando as fotos que tanto amo, passando por lugares conhecidos, descobrindo outros, sem pressa, a pé. Uma caminhada que me tomou cinco horas seguidas, sem que eu me desse conta.

Tempo para confiar na resistência do corpo, descansar a alma e deixar que o pensamento solto, neste primeiro dia de pequenas férias, seguisse seu rumo sem direção. Nestes momentos, na verdade, o rumo certo é mais para dentro de mim mesma do que para fora. Com o encantamento de um lugar que se ama então...

Foi com essa sensação de calma e abandono do estresse do cotidiano que a linha de ferro de Puerto Madero me surpreendeu. A linha, o trem, o momento... tão rápido como o pensamento, tão agudo quanto um relâmpago. 

Invadiu-me um ditado popular saído não se de que cartola do meu inconsciente: “uma luz no fim do túnel”.

Não havia túnel ali, mas havia a linha, havia o trem. 

Quantas vezes me deparei com o complemento funesto deste ditado: “quando viu uma luz no final do túnel, era um trem em sentido contrário”.

Quantas e quantas vezes, para todos nós, esta suposta luz nos iludiu e nos atropelou. A mim, muitas... muitas...

E eu estava em Buenos Aires, na linha do trem e com um trem. E tudo se esclarecia como num relâmpago de luz.

Onde quer que se esteja, quando um trem vem em sentido contrário, não tem jeito: é deixar passar.

Se focarmos nossa imagem apenas no trem, não conseguiremos ver senão a ele (e não a linha que, por trás dele, se esconde), um trem que oculta, por momentos, nossa direção.



(Obs.: * "rato" - tempo curto, rápido)

5 comentários:

Anônimo disse...

Amei!! Caminhar e viajar é preciso!! Libertar a alma!!
Miriam

Anônimo disse...

Amei!! Caminhar e viajar é preciso!! Libertar a alma!!
Miriam

Celina disse...

Que delícia 1- minha alma viajante ama saber que outra alma viajou também
2-que depois que o trem passa, a linha continua lá! e a luz no fim da linha ou do túnel, reaparece!
3-que a vida é assim mesmo. uma viagem, ora o trem passa por cima, ora a gente está dentro do vagão.
bjs

Eulalia disse...

Essa de dentro do vagão eu nunca tinha pensado. Conviver contigo é aprender sempre, querida!

pblower disse...

Grande texto! Grande final!