sábado, 16 de abril de 2011

A PORTA


Eu acho muito engraçado como Portugal se denomina, se denominou ou se deixou denominar “a porta da Europa”. Como pode um outdoor dizer: “É tão fácil chegar à Europa a partir de Portugal”? Ora, se eu estou na porta, não estou dentro! Para mim, é resultado de um raciocínio muito simples!

Tudo me faz crer que aquela Península fez um esforço imenso para fazer parte da Europa. Mas, pelo menos, até os finais da década de noventa, eles mesmos se consideravam como algo à parte... quem sabe... mesmo que inconscientemente.

Não foi à toa que Saramago escreveu “A Jangada de Pedra”, um de seus vários livros clássicos, acusando a situação da Península na época de sua inclusão ou não na Comunidade Européia.

Com tantas e variadas viagens, no entanto, acho que posso entender: na verdade, Portugal (não conheço a Espanha para falar sobre ela) não conseguia se encaixar no, digamos, espírito europeu propriamente dito. Algo diferencia (ou diferenciava) este povo que eu amo tanto, do resto do povo europeu, que também mora no meu coração.

Como meu pai era português, tive oportunidade de ir algumas vezes a Portugal de uma forma bem “caseira”: saídas de carro, depois do almoço, voltando à noite, para conhecer, a cada dia, uma cidade do norte do país. Meu pai, como bom minhoto (cidadão da região do Minho), bairrista que só ele, me dizia que, abaixo do Porto, não havia Portugal a ver. Assim, só fui conhecer o que havia ao sul, muito depois, em minhas viagens acadêmicas a congressos.

De qualquer forma, sempre senti muita diferença entre o que eu vivia em Portugal e o resto da Europa. Visitei algumas vezes a história do país, por pura curiosidade, tentando, vez por outra, identificar as raízes dessas disparidades. Na verdade, por ignorância de minha parte, com certeza, não sei se encontrei.

Não vou a Portugal desde 2001, quando estive em Lisboa para um congresso. Aliás, visitei a EXPO e a achei incrível. Isso foi um evento à parte, que não me fez, no entanto, pensar muito diferente de 1998, quando estive no Porto por conta de um outro congresso, o tal que me fez encontrar aquele gabonês de sonhos...

Pois foi justamente passeando descontraidamente de mãos dadas com ele pela cidade que me deparei com o outdoor da foto. Mostrei-a ao meu companheiro traduzindo-a, já que ele não entendia português. Ele contraiu o cenho e disse pensativo:

- Como eles mesmos podem se encarar dessa forma? Será que querem ser um continente à parte?

Naquela época, se os próprios portugueses admitiam uma propaganda que, mesmo de uma companhia aérea não portuguesa, os ostentava como a porta da Europa (e não parte da própria Europa), entendo melhor o que quis dizer José Saramago em sua obra, “Jangada de Pedra”...

Se a alma não fala, imagino, então, que esforço extraordinário foi preciso empreender para conseguir fazer a política falar, quando foi fundamentalmente necessário!

Bem, os tempos passaram... mais de uma década. Com a União Européia, mesmo em crise, espero que as coisas tenham mudado bastante... aliás, preciso voltar lá para conferir.

4 comentários:

pblower disse...

Amiga, mudar mudou, mas um pouquinho. Portugal ainda é um espaço outro, (e para mim MARAVILHOSO). Estão vivendo um momento muito dificil e acredito que muitos gostariam de sair da armadilha do MCE. Precisamos voltar lá juntas para vc avaliar in loco!!!!!

Carmen disse...

Passei lá 45 dias ano passado e me apaixonei.Embora não tenha dados para comparação,achei bem mais civilizado do que aqui,com todas as dificuldades que estão passando,olha que me acho muito patriota.Bjs.

Celina disse...

Portugal já está na minha lista para a próxima. Mas quero fazer uma slow viagem, para degustar com calma. Estão mesmo num momento bem difícil.
Que tal irmos as três juntas? beijokas!

Eulalia disse...

OI, Celina!
A idéia é super tentadora!!!