sábado, 10 de dezembro de 2011

TORTURA CHINESA



Decididamente, temos de tomar um cuidado redobrado com a escolha de médicos.

Foi-se o tempo, chi... foi-se há muito o tempo, o delicioso e insubstituível tempo do médico da família. Aquele que conhecia a todos e era chamado de tio pelas crianças da casa. Mas não dá para saudosismos... a saída é buscar e buscar, até achar a tal agulha no palheiro, o profissional cuidadoso e competente que entenda o nosso organismo. O problema é que de bons clínicos gerais estamos meio falidos... e, como a bola da vez é a “especialidade clínica”, o jeito é buscar essas agulhas nas tais especialidades.

Por falar em “agulhas”, gosto muito de acupuntura. Como terapeuta complementar, a observação parece óbvia. Mas é que essas agulhas, colocadas nos lugares certos, realmente nos colocam no prumo e, invisivelmente, nos deixam saudáveis a maior parte da vida. A questão é achar o profissional certo.

Se o nariz é bom, a gente acaba acertando, mas, antes disso, estamos expostos a cada armadilha!...

Por razões da vida, eu tinha perdido o meu e comecei a procurar outro, do jeito que todos conhecemos: por indicação e... por tentativa e erro.

Entre os que busquei, destaco um chinês legítimo. Médico e, segundo me disseram, muito conceituado. Quando cheguei lá, constatei que o homem quase não falava português, mas... se fosse dos bons, meus dotes lingüísticos acabariam por contornar a situação.

A anamnese foi rápida, acho até que pela dificuldade de comunicação. Na verdade, um bom acupunturista descobre o que você é pelo tato, pela leitura da energia nos pulsos. Acostumada a isso, já os tinha em cima da mesa. Disse-lhe que não tinha nenhuma queixa específica, mas que buscara a acupuntura como suporte para amenizar minha pressão alta dos olhos, aliás, um problema hereditário: meu pai tinha glaucoma.

Minha pressão era alta, mas não exigia maiores cuidados, apenas atenção. Ainda estava no limite de não precisar medicação. Mas a idade avançava e como já estava na minha década de 40, a tendência a subir começava a se fazer sentir. Vez por outra, o oculista me pegava com ela ligeiramente mais alta. Já estava passando do limite e ele já apontava para a possibilidade de entrar no colírio. Disse ao chinês, portanto, que, por causa dos efeitos colaterais da medicação, estava procurando um jeito de baixar a pressão, se fosse possível.

O médico tinha aquela aparência firme de quem sabe o que está fazendo e de quem não gosta de dar muitas explicações. Aliás, de não ouvir também muitas perguntas. Isso, por si só já me desagradou um pouco, mas, como ele era chinês...

Desde a primeira sessão, percebi o desastre: ele impôs um ar condicionado às alturas – melhor dizendo, às baixuras - e ao lhe pedir que aumentasse a temperatura ou me desse um abrigo, ele apenas retrucou que era indispensável deixar como estava e, sobretudo, manter os pés descobertos. Colocou um finíssimo lençol por cima de mim (com os pés descobertos!), sapecou minhas orelhas com um monte de agulhas e escafedeu-se. Eu literalmente congelei. Minhas orelhas doíam horrores! Eu nunca tinha tido uma sessão de acupuntura com tanta dor. Se resolvesse o problema dos olhos, com certeza, sairia com dor de garganta. Mas ele era chinês, da terra onde nasceu a acupuntura. Agüentei firme. Firme até o pré-congelamento, mas agüentei.

Meia hora depois, ele entrou na sala, eu provavelmente azul de frio e tremendo dos pés à cabeça. Disse-lhe isso e ouvi como única resposta que ele sabia o que estava fazendo e que, provavelmente, com o tratamento, dentro de um mês, mais ou menos, eu estaria com pressão 12 por 12, super normalizada, pois ele já tratara muitas pessoas assim, com excelentes resultados.

Voltei para casa com esta última frase gravada em minha mente e decidi ficar por um mês para ver se teria resultado. Valeria a pena suportar o que comecei a intitular de tortura chinesa, que era, literalmente, o que acontecia.

Um mês depois, corri para o oftalmologista e qual não foi a minha surpresa: a pressão que sempre estivera no limite de 20, tinha subido abruptamente para 25!

Saí com a receita do colírio e uma raiva incontida! Voltei ao chinês para lhe dar a notícia e apenas ouvi, numa voz de poucos amigos:

- É, acho que, no seu caso, será preciso usar colírio.

- Mas eu não precisava usar, até que cheguei aqui!


Ele apenas respondeu:

- É, se não precisava, passou a precisar.

Eu não tinha nem como retrucar, pois como e onde teria argumentos suficientes para processá-lo? Também não dava para avançar no seu pescoço: ele era bem mais alto e mais forte do que eu...

Foi assim que me meti com um colírio e seus efeitos colaterais. Passei assim muitos anos, até achar as pessoas certas, tanto em acupuntura, como em oftalmologia. Hoje, finalmente, tenho os dois, bons profissionais: um médico acupunturista, que aquece a sala, nos dias de inverno e me cobre com um cobertorzinho maneiro, para que eu me sinta num estado pré-celestial. Achei, também, uma oftalmologista que, de brinde, é médica homeopata das boas, que junta ao tratamento uns dois ou três tabletinhos, que tomo diariamente.

E tem o Reiki, florais e outras coisas que a maioria das pessoas chamaria de “místicas”. Na verdade, eu as considero terapias complementares.

O fato é que minha pressão baixou, depois de quase dez anos de escravidão: agora sustento 16 por 16, muito menos do que tinha, quando era jovem.

O que aprendi com tudo isso e o que me fez escrever este conto, foi, na verdade, o convívio com essa experiência e, também, com as incontáveis histórias de maus atendimentos clínicos que, muitas vezes, tenho ouvido, diariamente, de meus clientes de Reiki e florais. Só nesta semana, por exemplo, recebi dois casos exacerbados como este meu.

Não dispenso o atendimento clínico em quaisquer dos casos, pois sei que as terapias complementares (Reiki, etc.), como o próprio nome diz, são “complementares”. Mas as pessoas não precisam passar por torturas chinesas, por causa disso. E muito menos serem mal atendidas, como eu fui. Menos ainda, saírem pior do que entraram.

Aprendi que, ao primeiro sinal de descontentamento bem fundamentado, devemos mudar. Aprendi a desconfiar da frase “sei o que estou fazendo”, quando eu não sei se tenho certeza disso. Principalmente, aprendi que quem tem de saber o que está fazendo somos nós, não eles.

A tortura chinesa fez um mal quase irrecuperável aos meus olhos físicos, mas aguçou meu olhar interior. Passei a enxergar melhor, a buscar melhor, a escolher melhor.

Quem sabe, minha experiência possa inspirar você também...

3 comentários:

Anônimo disse...

minha amiga, imagino bem o que vc deve ter sofrido ... ainda mais te conhecendo um pouco e sabendo que, abaixo de 35 graus, vc já começa a congelar!!! rsrsrsrs
Detalhe: não vi nenhuma foto ilustrando o conto desse fim de semana. Pergunta que não quer calar: vc não tirou nenhuma foto da sua experiência de congelamento no consultório do chinês??? rsrsrs bjs, décio

Eulalia disse...

ahahah... a máquina fotográfica congelou, junto comigo!

Miriam disse...

Acho que o essencial, vital mesmo é que a gente saiba o que está fazendo e boa mobilidade para correr... Sei bem o que é isso... fiz tratamento errado por só 8 (oito) anos... com um neurologista considerado, à época um bam bam bam... Ele já passou desta para melhor e eu ainda estou aqui com um excelente cardiologista... mas a diferença é pouca, tudo termina em "ista"... Bjs. Miriam