sábado, 8 de agosto de 2020

APRENDI




Nesta pandemia (pandemônio para muitos) tive tempo suficiente para me dar conta de que aprendi muitas coisas.

A alguns meses de completar 70 anos, percebi, sobretudo, que estava vivendo muito pouco para mim mesma e em excesso para o cotidiano que me engolia. Tenho certeza de que o mesmo deve estar acontecendo com muitas pessoas. Não é um privilégio meu. Parece óbvio, mas, se algum item servir para você, quem sabe, também faça você repensar em algumas coisas.

Aprendi que, quieta, no silêncio do isolamento, o aprendizado se torna, muitas vezes, mais perene. Eu tinha me esquecido disso, embora tenha feito, no passado, algumas reclusões espontâneas, mas acho que não foi o suficiente para ter aprendido tanto ou, quem sabe, a sabedoria da idade me fez mais esperta e consciente.

Então, nesta reclusão que também é uma escolha consciente - embora irrefutável pelas circunstância - aprendi melhor, aproveitando as vantagens do isolamento.

Aprendi que certas dores físicas que a velhice nos traz são inevitáveis, mas que temos o direito de evitar ou saber cuidar melhor das dores emocionais.

Aprendi que há, de verdade, pessoas que realmente se preocupam comigo. Muito mais do que eu imaginava! E sou muito grata a elas e à vida por isso. Eu já sabia que tinha amigos de verdade. Isso eu não aprendi, mas aprendi quais, de fato, são meus melhores amigos.

Aprendi que tenho tempo para sorrir para o meu espelho e não apenas para as pessoas. Preciso fazer mais isso. Na minha idade, é uma descoberta de ouro! Com essa descoberta, aprendi que as dores da alma são para serem, primeiro, vividas, depois digeridas e transmutadas para que não apaguem o sorriso interior.

Aprendi a me dar tempo de voltar a ler pelo menos um pouquinho todos os dias, em vez de engolir um livro todo, num final de semana, por falta de tempo. Assim, aprendi que chegou a hora de trabalhar menos e respirar mais.

Aprendi que é melhor, muito melhor comer em casa do que na rua e que cozinhar não dá tanto trabalho quanto parece.

Aprendi a varrer a casa logo de manhã, enquanto a poeira está assentada... e passei a fazer isso também com meus problemas.

Aprendi a voltar a ouvir música, enquanto limpo a casa ou cozinho.

Aprendi a planejar cada dia, logo que acordo, só para ficar mais divertido ter de mudar o roteiro mil vezes, no decorrer das horas.

Aprendi, sobretudo, que me divirto muito comigo mesma e isso é incrível.

Eu sabia que as pessoas não devem ser “consertadas”, mas a novidade é que aprendi que, se eu tenho de “consertar” alguma coisa em mim mesma, é preciso ter meu coração como mestre e não pessoas ou circunstâncias. Eu já sabia disso, mas tinha me esquecido e foi bom me lembrar. De brinde, aprendi que não cabe apenas a mim aceitar as pessoas como elas são: a recíproca também é verdadeira.

De repente, percebi que foram precisos mais de 100 dias para me dar conta de que existe uma fila enorme de coisas que aprendi, mas principalmente, aprendi que a vida é bela justamente porque é para ser vivida por dentro e não em decorrência da pandemia ou do pandemônio de coisas ou de pessoas que nos cercam.

 


19 comentários:

Unknown disse...

Mestra que texto espetacular, conversou com a minha alma profundamente! Gratidão!

Essências do Butiazal disse...

Lalinha querida, que bom yer teus escritos de volta, falou para meu coração. Beijo muito, mas muito saudoso. Gratidão!

gwarte disse...

Lindo....Feliz 😍

Unknown disse...

Maravilhoso, dinda! Beijos e obrigada por compartilhar;

Unknown disse...

Amei 😍

João Carlos disse...

Reestreia em grande estilo!!
Com vc, me rejubilo!!
Tudo que foi dito é verdadeiro.

"Aprendi a planejar cada dia, logo que acordo, só para ficar mais divertido ter de mudar o roteiro mil vezes, no decorrer das horas."

Às vezes, é mesmo bom ser bagunceiro.
Mesmo que seja todo dia,
Que venha a alegria!

:-) :-)

Helena disse...

Quantos aprendizados ou retomada de aprendizados adormecidos... O distanciamento social pode e deve ser uma ocasião para mudanças na maneira de ver o mundo, de se ver e de ver o outro. Beijo grande, querida amiga e amadrinha

André disse...

👏👏👏👏

Miriam disse...

Muito bom! Mais alguns aprendizados neste pandemônio de novos olhares!!👏🏻👏🏼👏🏻

Unknown disse...

Aprendi que tenho que sorrir para mim. A viver as angustias e dores ate serem diluidas, para somente após serem transmutadas e absorvidas.Aprendi que as"amizades" se perdem na distância e no isolamento e temos que entender as peculiaridades e dificuldades de cada um ,inclusive as nossas próprias Estou tentando aprender e conviver neste nova contexto.
Lindo texto!

Unknown disse...

Perfeito...amei...

Daniela Souza disse...

Trabalhamos muito também nessa pandemia!!! E me senti muito feliz de atuar junto a sua alma... mesmo à distância... me encontrei em vários parágrafos aqui... obrigada por você escrever e nos inspirar a nossa própria mudança! Bjus de luz mestra linda!!!

Irene disse...

Gostei muito! Acho que de uma certa forma muitos tiveram algum insight nessa pandemia! 🙏

Ligia Daher disse...

Maravilhosa reflexão! Sintonia perfeita com a maioria. E aquelas que não havia percebido vou refletir. GRATIDÃO por compartilhar. Vale a pena dedicarmos mais tempo a nós mesmas e nos AMARMOS em primeiro lugar.🙏🙏🙏🙏💗🦋🍀

Unknown disse...

Sem palavras!

Unknown disse...

Sem palavras!

Unknown disse...

Que texto lindo e verdadeiro. Parabéns querida. Bjs 🌹❤

Beatriz Couto disse...

Parabéns, Eulalia! Ler e escrever são duas coisas que estou amando reaprender! ��❤��

Dalva disse...

Excelente!
Não conhecia esse seu lado de escritora não acadêmica. Adorei ter sido incluída entre as pessoas que estão tendo o privilégio de desfrutar disso. Obrigada!