Orquídeas são belas, delicadas, melindrosas. Mas não
as menospreze em sua resistência: são guerreiras.
Mais do que isso: tem personalidade própria e ai de
você se tenta tirá-las de seu canto favorito. A não ser que ela decida que
gosta da sua sala ou de seu quarto, desista. Ela vai morar onde quiser, senão
reclama, cria rugas nas folhas, literalmente envelhece, fica ranzinza... e, se
você bobear, morre.
É preciso estabelecer um convívio de mútua confiança
e respeito. Ela fica onde gosta e você vai visitá-la com frequência. Aliás, nem
precisa ser com tanta frequência. Na verdade, ela se basta. Não precisa de
muita água, pelo contrário, gosta mesmo que a deixem em paz com suas folhas,
suas raízes soltas, seus autocuidados.
Se se sente respeitada à altura, não vai lhe negar
seu presente anual: flores belíssimas e duradouras. Um mês de encantamento
diário, no mínimo.
Esta é minha orquídea. Escolheu viver na área de
serviço. Fica lá, bem no cantinho do peitoril, resguardada por uma grade de
proteção. Quanto mais no cantinho, melhor, pegando uma nesguinha de nada de
sol, que passa tão rápido que nem chega a esquentar.
Não é para ser mexida, mas
me dá excelentes bons-dias, posso garantir. É quase um bom dia de
reconhecimento pelo respeito a sua quietude. Ela até aceita ficar uma tarde descontraída
de domingo em minha sala. É como se ela fosse me fazer uma visita. E volta no início da noite para seu cantinho na área, para seu repouso merecido. Imagino-a
sentando-se confortavelmente em suas folhas, espreguiçando-se manhosamente para
dormir, depois de uma tarde fora de casa.
Assim respeitada, brinda-me com suas flores, anual e
pontualmente.
Estou em obras. A área está repleta de bagunças,
muito lixo de entulho, poeiras de todos os tipos. Achei que ela fosse se ressentir.
Pensei em trazê-la para a sala. Fiz. Em poucos dias, ela já se mostrou amuada.
Seja o que os deuses quiserem: levei-a de volta para
a área de serviço.
Até acho que ela está gostando do pó gerado pela
obra. Um pó ácido, com certeza. Lembrei-me de que um pH um pouco ácido não é lá um
desconforto para este tipo de planta. Deve estar até gostando.
Mas é um contraste estonteante mirar a beleza e
pureza de seu branco incomparável com o ambiente em que se encontra.
Uma flor, no lixo, poder-se-ia dizer (aliás, como diz S..., um amigo).
Como uma flor-de-lotus, nascida na lama, esta nasce fagueira e singela no meio dessa confusão toda, com sua beleza inenarrável.
Como uma flor-de-lotus, nascida na lama, esta nasce fagueira e singela no meio dessa confusão toda, com sua beleza inenarrável.
Poderia imaginar que ela, neste momento, com todas
essas flores de um branco imaculado, está morando ali?
4 comentários:
Você tem razão. Já aconteceu com uma violeta, que era esmirrada e quando me mudei para o mato, ela quase explodiu de tanto que cresceu. E gostava de ficar em cima da máquina de lavar. Eu até pedia licença para lavar roupa!
São almas muito especiais essas, não?
Sniff... continuo não conseguindo entrar no seu blog!!! Nem com o desktop, nem com meu note... sniff... já estava até viciada...
Elas são presentes de Deus!Realmente escolhem onde morar,nós que achamos q cuidamos delas,porém elas emprestam sua beleza e frescor para nós aliviar das tensões diárias.... um bálsamo olhar para elas assim como disse, pura,altiva e intocável... bjos Cris
Obrigada pelo comentário, Cris.
Sim, como especialista em flores, você sabe bem o que está dizendo...
E, para minha alegria, ela está começando a soltar seu pendão de novo! Vai florescer! Até parece que ouviu nossa conversa de ontem!!!
bjs!!!
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