sexta-feira, 20 de junho de 2014

CONTRASTES


Esta Copa está me aguçando a percepção de alguns contrastes. Não pude resistir. Mesmo para quem não está prestando muita atenção aos jogos (nem do Brasil), contrastes saltam aos meus olhos.

No dia do jogo do México contra o Brasil, pela orla de Copacabana, viam-se camisas verdes ou amarelas com o escudo da nossa seleção contrastando com o tom aguçado do vermelho mexicano. Estiquei meu olhar pela areia. As torcidas se misturavam espontaneamente amigáveis. E pensei na contrastante reação de nosso povo contra a presença da presidente no Estádio, na estreia dos jogos. Saí dali mais convencida de que o povo, hoje, está sabendo escolher melhor contra quem se irritar... um contraste socio-histórico.

Nós somos barulhentos. Não nego. Num restaurante, por exemplo, isso fica muito claro. Mas nosso barulho se torna insignificante diante do hilariante bulício de muitos de nossos visitantes. Hoje, no metrô percebi a estranheza dos cariocas diante do alarido em torno, alimentado por visitantes de alguns dos países vizinhos. Nada irritante, mas tão estrondoso que nos faz sentir cidadãos murmurantes.

Enquanto o estádio que agasalhou a torcida japonesa testemunhou uma arquibancada deixada impecável em limpeza e lisura, o estádio que recebeu a torcida inglesa teve suas cadeiras completamente destroçadas, como comemoração ao gol daquele país (e nós é que somos chamados de mal educados...).

Vejo também a diferença evidente entre o bulício de nosso bairro por toda esta semana e a festa quase histérica e hilariante que ocorre nos dias que circundam o Reveillon. Faz-me pensar no contraste existente entre um encontro esportivo saudável e cheio de vida e uma festa sem outro fundamento que não seja beber por um ano que se vai e beber mais ainda por um ano que se inicia. Os objetivos são tão diferentes, que se refletem desde o comportamento das pessoas até o tipo e quantidade de lixo que se vê espalhado pelas ruas.

Nossas ruas, por aqui, não estão enfeitadas como nas outras Copas. Vê-se uma ou outra bandeira, em algumas janelas. Aliás, nem sempre bandeiras brasileiras. Mas é só. Não tem nada a ver com as ruas de outrora, completamente enfeitadas e pintadas, com os mais diversos símbolos e caricaturas de jogadores. Contraste histórico!

Os tempos mudaram. Muito. Nosso povo está diferente.

E meu olhar também está diferente. Aliás... mais um contraste.

4 comentários:

pblower disse...

É muito bom ver este mundão todo por aqui!

João Carlos disse...

Concordo com Patrícia.
Quanto à mudança (ruas não tão enfeitadas), será que se deve ao fato de o povo estar menos pobre (pibinho? vá lá) e, com isso, mais preocupado com "otras cositas más"?

Eulalia disse...

Não acredito que seja falta de recursos, pois passamos por várias Copas em situações financeiras piores do que esta.

Mas a rua inteira contribuía, cada um com um pouquinho, o valor de uma cerveja ou refrigerante (que todos continuam a tomar...) e com umas latas de tinta baratas e umas bandeirinhas da Rua da Alfândega se fazia a festa.

Não acredito que seja isso não. O povo mudou mesmo.

Celina disse...

Eu adorei o clima que vi em Copacabana. Uma festa de sorrisos em muitos idiomas. A raiva dos brasileiros está toda represada para os reais inimigos do povo. Aqueles que estão infiltrados nos mais diferentes postos de comando. Muito bom o texto!