Somos
uma sociedade em busca de igualdades: Inclusão, Escola para Todos, Sociedade
para Todos... quanta terminologia...
Trabalhei
com educação especial, especificamente educação de crianças surdas, preparando
profissionais para atuarem na área, lutando por educação, saúde e inserção no
mercado de trabalho.
Quantas
e quantas vezes, fazer entender que igualdade só se estabeleça pela consciência
da diferença, me fez ser "excluída" de grupos de trabalhos, inclusive
governamentais. É que a política do discurso, sempre atropela a política do
"fato".
Mas
não comecei a escrever para fazer um discurso sobre a diferença das
"chamadas pessoas especiais." Não que não ache válido. Fiz isso
quase toda a minha vida...
Mas,
hoje, na verdade, quero tratar do direito da mulher, que é uma pessoa muito
especialmente lutadora por seus direitos. Mas será que o suficiente?
Nas
grandes... nas pequenas coisas...
Desde
a jornada de trabalho, que dizem ser dupla, mas que de fato é múltipla, na
maioria dos casos da mulher. Posso falar, pelo menos, da maioria das mulheres
brasileiras: profissional, dona de casa, mãe, esposa, amante, socialmente
constituída como uma heroína. Eu não sei como uma mulher pode ser tão
"múltipla"!
Outro
dia vi um documentário de uma professora que resolveu entrar numa loja, pegar
um urso de pelúcia e, acintosamente, sair da loja. Foi presa, evidentemente. E
parecia que não queria sair da prisão, apesar de o marido ter contratado um
excelente advogado. Ela se negava a falar com qualquer defensor.
Um
caso assim, chama a atenção e o que eu vi, foi justamente, a entrevista. A
professora, que tinha cara de professora, indubitavelmente -quem é professora
reconhece uma igual... -, dizia que estava muito bem lá. Não aguentava ter uma
pilha de livros na cabeceira, há anos, muitos CDs musicais para ouvir e nunca
conseguir fazer nada disso. Chegava da escola e tinha de cuidar de tudo em
casa: filhos, marido, provas para corrigir, compras da casa, etc.
Ali,
na prisão, naquele silêncio, ela já havia lido Grande Sertão Veredas, já ouvira
uns CDs maravilhosos (e cantarolou um trechinho de música para a jornalista), e
não pretendia falar com advogado algum antes de acabar de ler a pilha de livros
que trouxera, as músicas e descansar. Finalmente, se sentia livre para fazer o
que mais desejava naquele momento.
Fico
imaginando como o marido deve estar se virando com a tal "jornada
dupla". Com certeza, não está tendo tempo para ir ao futebol com os amigos
aos domingos e, tampouco, se refestelar diante da televisão quando chega do
trabalho "tão cansado", sem condições de ajudar em qualquer coisa.
Dá
para pensar... e foi pensando nisso que passei por uma praça e me deparei com
um WC público.
Eu
duvido que uma mulher possa se servir do WC que está exposto naquela praça. Nem
uma mulher guerreira, como nós. Aquilo ali, evidentemente, é escrachadamente
feita para o público masculino.
Ninguém,
neste mundo das "igualdades" pensa realmente, na igualdade de
direitos.
Como
tudo que tem acontecido não só aqui, mas no mundo todo, estamos entupidos de
discursos políticos e carentes de políticas de atuação.
Não
estou querendo me referir aos lavatórios... é apenas uma foto. Há mil
lavatórios belíssimos para ambos os sexos se visitarmos o mundo. Alguns até
luxuosíssimos! Mas... lavatórios são o de menos. O problema continua o mesmo,
aqui e em muitos países, mesmo os chamados "mais desenvolvidos". Os países
que atuam na prática concreta do discurso da igualdade são realmente muito
poucos, mesmo entre os tão chamados "desenvolvidos".
Mas
a foto vale por si. Não apenas como provocação. Muito mais para evidenciar a
reflexão:
Eu
quero meu lavatório público, onde eu possa me descartar das mazelas femininas
deste mundo de fachadas.
3 comentários:
Amiga,
Eu estou topando qualquer lavatório onde eu possa me livrar da m.... que virou a sociedade politicamente correta, orgânica, e cotizada.
Qualquer lavatório para eu me livrar desses discursos tão distantes dos atos.
... e eu querendo um lavatório específico pra fazer uma lavagem cerebral e ocular, verdadeira e integralmente, lavar meus resquícios não percebidos de discriminação de qualquer tipo.
É que eu nem tinha pensado no viés discriminatório desses lavatórios públicos ao passar por eles.
Quanta cegueira da minha parte!
Que texto! Eu estou farta de discursos! Já me sinto velha demais para ter esperanças de que o que se fala será efetivamente feito.
Primeiro seria necessário um lavatório que colocasse descarga abaixo toda essa corja que nos governa.
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