Outro dia, conversando com uma amiga portuguesa,
comentei como, aqui no Rio, as calçadas portuguesas estão longe de serem planas.
Ela apenas comentou:
-
Na foto, aqui e lá, todas são planas.
E não disse mais nada.
Fiquei imaginando como andam as calçadas portuguesas
em Portugal. O que ela teria querido dizer com isso? Mas na hora, a conversa
estava tão animada para outros assuntos que não me aprofundei na questão.
De qualquer modo, fiquei curiosa e só para conferir,
tirei uma foto de nosso magnífico mas completamente não-plano e cheio de falhas
calçadão da Av. Atlântica. A constatação conferiu: na foto, todo chão de pedras
portuguesas parece lindo e plano...
Comentando sobre isso com um geólogo e grande amigo
de papo, ele observou:
-
Isso não tem muita solução. Nosso solo, principalmente na zona litorânea é
arenoso. Não tem como garantir uma qualidade de vida das calçadas por muito
tempo. O solo cede a todo instante.
Estava pensando nisso, ontem, na ida para meu
consultório e fui olhando para o nosso desacertado chão da Rua Barata Ribeiro,
meu roteiro cotidiano. Não são apenas as partes com pedras portuguesas. O chão,
mesmo nas áreas de cimento batido, não é plano. Olhei com mais cuidado em
volta. As grandes árvores, em seu silêncio exuberante, entortam o solo, para
fazerem crescer suas raízes. Há buracos também. E há descuido administrativo...
mas o que me chamou maior atenção foi mesmo a silenciosa ondulação do solo
provocada pela natureza: solo arenoso, raízes das árvores...
Palmilhando meu dia-a-dia e aguçando meu olhar para
essa natureza aprisionada no solo, sem respeito ou cuidados, fico imaginando o
que fizemos conosco... o que estamos fazendo com o que de mais belo temos a
nossa volta, com essa exuberância florida, com os animais presos em
apartamentos - cães enormes morando em cubículos conjugados, pássaros em
gaiolas, flores ceifadas de jardins e, na maioria das vezes, tratadas
descuidadamente para murcharem em apenas um dia em vasos de cristal...
Acho que estamos nos perdendo de nossas almas e nem
nos damos conta disso...
Um comentário:
É... As calçadas de pedrinha portuguesa nos fazem pensar...
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