Ontem,
trabalhando em meus textos, me deparei com um hífen. Depois de tantas reformas
ortográficas (só eu já vivenciei três nesta encarnação!), confesso que já não
sei mais quem é quem e, volta e meia, tenho de
conferir.
E precisava da palavra quebra-cabeça. Eu não sabia como me virar: quebra-cabeça ou quebracabeça? Afinal, "passatempo", de mesma formação estrutural, se escreve junto...
E precisava da palavra quebra-cabeça. Eu não sabia como me virar: quebra-cabeça ou quebracabeça? Afinal, "passatempo", de mesma formação estrutural, se escreve junto...
É muito conhecimento etimológico, tático e intuitivo para conseguir resolver sozinha. Na verdade, eu estava às voltas com o quebra-cabeça que é o mito de Édipo... e ter de parar para ver como se escreve a palavra, é um atraso de vida em um texto que, por si só, já é um dos quebra-cabeças mais intrincados das leituras mitológicas e da psicologia ocidental.
A palavra
se apresentava para mim, ela mesma, como um quebra-cabeça leonino e
prepotente!... A base da Esfinge? Dá o que pensar... mas voltemos ao protesto.
Ah... a nova
reforma ortográfica...Tá certo, tá certo, eles tentam facilitar. Mas, cá para
nós, desta vez, só complicou ainda mais. Certos acentos que se foram eram fundamentais. Não fosse a existência de
Dionísio da Trácia, organizador e responsável pela equipe que traduzia os
papiros da Biblioteca de Alexandria, não teríamos, hoje, condições de saber como eram pronunciadas as
palavras em grego clássico. Isso porque o grego clássico, em sua origem, não
tinha acentuação. Foi Dionísio quem estabeleceu um sistema de acentuação que nos
permite, hoje, sabermos exatamente, como eram pronunciadas e escritas as
palavras em grego clássico e onde recaíam as tônicas. E que sistema de
acentuação fantástico!
Que importância tem isso? Muita! Serve de base para muitas (muitas!) explicações etimológicas de palavras em Língua Portuguesa, como por exemplo, saber por que algumas palavras começam com h e outras não. É, isso mesmo, por causa de uma marquinha acentual na primeira vogal da palavra grega! Além da tonicidade, claro. Mas não compliquemos, senão vou eu, também, fazer um outro discurso paralelo desnecessário. Aqui, o objetivo é protestar.
Que importância tem isso? Muita! Serve de base para muitas (muitas!) explicações etimológicas de palavras em Língua Portuguesa, como por exemplo, saber por que algumas palavras começam com h e outras não. É, isso mesmo, por causa de uma marquinha acentual na primeira vogal da palavra grega! Além da tonicidade, claro. Mas não compliquemos, senão vou eu, também, fazer um outro discurso paralelo desnecessário. Aqui, o objetivo é protestar.
Então, protesto!
Há palavras que, sem acento, mesmo no contexto, nos confundem... Mas o hífen... ah...
essa foi a pior jogada. Esse, sim, que deveria ser estudado para descomplicar
de uma vez por todas nossa vida ortográfica, foi mexido de novo para atrapalhar de vez!
Assim, bem no meio do meu raciocínio mitológico,
entrei na internet para conferir se quebra-cabeça tem hífen ou não, se é
junto ou separado (ai, meus deuses!) e me deparei com um texto de Gabriel
Perissé. Ele é escritor, tradutor e doutor em Filosofia da Educação (USP),
autor de livros sobre leitura, linguagem, escrita criativa, enfim, pode não ser um filólogo, mas tem bala na
agulha, pelo que parece. Não o conheço,
nem sua obra... achei o texto na
internet, por causa do hífen, mais especificamente, por causa da palavra
quebra-cabeça, como lhe disse. Trago seu nome para cá, porque sorri satisfeita com o começo de
seu artigo, um artigo sobre a história do
hífen:
O
hífen é o pesadelo, o pomo da discórdia, a besta do apocalipse! É a pedra no
caminho, a pedra de escândalo, o fim da picada.
Mais adiante,
diz o autor:
Aliás,
quer melhor quebra-cabeça do que o próprio hífen? Sim, o tracinho trapalhão
continuará na palavra "quebra-cabeça".
Obrigada, senhor
Perissé, consegui minha informação e... diga-se de passagem, de forma bem
divertida.
A essa altura, já que não dá para mudar, rir é o melhor remédio...
Obs.: as
citações foram tiradas do artigo História do Hífen, de Gabriel Perissé,
publicada em seu blog, em 19 de março de 2009. Link
http://novaortografia.blogspot.com.br/2009/03/historia-do-hifen.html
6 comentários:
Pois é... um tracinho de nada, e olha o tempo (que vc não perdeu, porque acabou escrevendo esse texto). que leva para a gente saber se está escrevendo certo! E digitar, então? para o ç, duas teclas, para - não - cinco! Mas reforma no Brasil, nunca é para facilitar mesmo... e os portugueses ( sem acento?) continuam a escrever como sempre apenas ignorando a reforma.
bjkas!
É isso aí! Um brinde a minha segunda nacionalidade!!!
Profª Eulalia, que bom ver o blog ortográfico prestando um serviço! Abraços!
Gabriel Perissé
Atingi uma idade em que junto e separo palavras a meu bel prazer. Sou uma black blok ortográfica!
Essa não foi uma reforma, para mim foi uma "deforma"
Na minha idade me dou o direito de continuar a escrever como aprendi!!!
É... se pode complicar, para que facilitar, né?
Adorei os comentários!
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