Já faz algum tempo, tem
ocupado a minha mente um casal que
gostaria de rever, saber notícias, enfim, achar nesse mundão de meus deuses...
Carlos
e Glória. Por certo que você ouviu falar deles, quando contava as histórias de
meu pai. Moravam com ele. Carlos, protético, queria ser dentista. Glória era
uma espécie de governanta da casa. De brinde, deram a meu pai a companhia de
dois galantes menininhos lindos, saudáveis, alegres e graciosos, que chamavam meu
pai de avô.
Mas o tempo passou e, como tudo que passa, eles foram viver a vida
deles, numa casa lá para as bandas da Quinta de Dume, justamente a Quinta de
meu pai. Cheguei a visitá-los uma vez, em 1983, a penúltima vez que fui ver meu
pai em Portugal. Na última, nem deu para nada, pois estava preocupada em
trazê-lo de lá e a salvar o Manuel. Você que leu o conto "Golpe de Mestre" sabe bem a que me refiro.
E foi assim
que os perdi de vista. Não sabia o seu endereço. Sabia apenas ir lá, mas não
trouxera o endereço. Que ingenuidade a minha! Mas algumas vezes me lembrava
deles, embora a vida agitada e com muita pressa não me desse muito tempo para
"pensar nisso de verdade".
Então por esses últimos tempos, "andei a pensar muito neles",
como diriam os portugueses.
A vida dá voltas... e a gente deixa pessoas como
essas escorregarem por entre os dedos do destino e... as perde. Pensava neles.
Penso neles. Como estarão? Os pequeninos devem estar casados e com filhos grandes...
passaram-se trinta anos! Carlos deve ter mais ou menos a minha idade...
É nessas
horas que eu digo que temos de ter cuidado com o que pensamos...
Pois não é
que... do nada (do nada mesmo!) recebo uma carta de um primo de Portugal do
qual não fazia a mínima ideia de quem seria? Isso mesmo. Um primo, dizendo-se
amigo do Manuel e que guardara o meu endereço, pois me conhecera quando eu lá estivera.
Ele era muito pequeno, na época, mas guardara a minha lembrança e queria resgatar essa prima perdida do Brasil.
Respondi
à carta com um mail e, de lá para cá, é assim que nos correspondemos há mais ou
menos um mês, com mil fotos e histórias antigas que nos fazem achar muita graça
ou apenas servem para aproximar parentes distantes. Quase não nos conhecemos,
mas a camaradagem é delicada, com ele me
contando quem é quem e "o que estão
a fazer pelas bandas de Portugal". Raízes. E... temos, em comum, um
profundo respeito, saudade e amor por Manuel.
Conversa vai, conversa vem, me
lembrei de perguntar por Carlos e Gloria. Ele lembrou-se deles, de quando,
ainda garoto, visitava a casa de meu pai, seu padrinho. Mas era só.
Mas quando
uma pessoa tem bom coração, não deixa a coisa por isso.
Assim, por esses dias,
recebi um mail desse primo com todos os indicativos de que são quem estou
procurando. Meu primo buscou-os num dos arquivos da cidade e desencavou o que eu, singelamente, tinha perguntado por mail,
sem saber senão o primeiro nome dos dois.
Mas ele achou um Carlos, dentista,
casado com Gloria e que moram em Dume. Só podem ser eles. É muita coincidência.
Minha primeira reação foi de satisfação: Carlos tornara-se dentista, como
sonhara!
Como se não fosse suficiente, meu primo ainda se ofereceu para ir
pessoalmente conferir. Não precisa! Já lhe dei trabalho mais do que suficiente.
Vou escrever e conferir, mas já quase certa de que sei de quem se trata e
resgatar uma história que ficou inacabada, um carinho perdido no mundo.
É... a
gente deve ter muito cuidado com aquilo que deixa povoar nossa mente... vai que
a vida faz acontecer?
De brinde, ganhei um primo correspondente bem fofinho, com
uma família que parece fofa idem, pois, quem é tão gentil só pode viver
cercado de amor.
Um brinde a isso também!
7 comentários:
Lali querida, lindo seu texto! E mais lindo ainda esse seu resgate de vida! Bjs Eugenia
Obrigada, querida... pois é... as voltas que o mundo dá... :)
Eulalia, então o primo está a te ajudar? Muito bom! Só falta agora a gente ir a Portugal para fazer um resgate pessoalmente. Que tal?
Isso é presente da vida mesmo, e você merece um monte deles!
"Das habilidades que o mundo sabe, essa ainda é a que faz melhor: Dar voltas.''
José Saramago
Queridos,
Obrigada pelos comentários. Por enquanto, estou apeans namorando a possibilidade de saber sobre eles e ver se são eles de fato. De qualquer modo, a internet faz milagres, não é mesmo?
Carlos, que passagem linda de Saramago! Não conhecia! Bom reconhecê-lo como "ex-aluno" . Dá um orgulho!... rs
É interessante como funciona a mente humana.
Quando nada atrapalha, a gente, aparentemente, do nada, quer saber de pessoas que conhecemos em algum lugar do passado.
Ou que não conhecemos, mas queremos.
Parafraseando (mal) o Saramago, queremos dar mais uma volta.
Mais uma...
Afinal, a esperança, essa danada, insiste em não morrer. ;-)
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