Foi
mesmo assim. E quando é muito intenso, é difícil de contar. Talvez por isso não
tenha conseguido escrever até hoje sobre este encontro. Mas foi único, em sua
essência. E é assim, até hoje. Um irmão de vida.
Décio
apareceu aos meus olhos, pela primeira vez, descendo por uma das rampas da
Universidade, recém concursado. Eu já havia feito parte da banca de três
concursos anteriores, para nosso Departamento. Hora de descansar. Assim,
naquele ano, declinei do convite. Aliás, nem sei se foi bem isso. Acho que foi
mesmo negar a participação.
É
que ser de banca não é fácil.
Julgar
o melhor caminho que uma formiga pode fazer no seu percurso já é tão difícil!...
Digo isso porque, quando pequena, ficava observando as formigas em seus
caminhos e ficava imaginando porque não tiravam uma linha reta entre o alimento
e o formigueiro. A vida me ensinou, muito aos poucos, que julgar é perigoso,
difícil, escorregando para o terrivelmente parcial. Depende tanto de nossa
maneira particular de ver o mundo!... Agora eu vejo que é impossível compreender
o mundo das formigas, conhecer seus melhores caminhos pelo solo, os pedregulhos
da estrada. Nem sempre a linha reta é o melhor percurso para alcançar uma meta.
Aprende-se muito, mesmo com as formigas...
Voltemos
ao concurso. Eu me sentia em saia justa comigo mesma a cada vez que participava
de uma banca, fosse para que fosse. Ser justo é muito enganador, embora você
queira ser “justo ao máximo”. Não me arrependo de nenhuma das bancas das quais
participei. Isso não quer dizer que eu tenha sido justa, embora tivesse sempre
saído com essa impressão... o que conta, para essa história é que sempre que
pude, declinei da oportunidade. E, desta vez, especialmente, foi uma das
melhores coisas que me aconteceu. Não por ter me livrado de julgá-lo, mas
porque foi muito melhor conhecer Décio, como conheci.
Mas,
com essas considerações, acabei deixando Décio descendo pela rampa em minha
direção, acompanhado de um de nossos colegas. Voltemos aos fatos:
Meus
olhos se depararam com seus olhos inquietos e sorridentes. Passo firme e
apressado. Como os meus. Algo dentro de mim bateu mais forte e não era apenas o
coração. Algo que me instigava dizer:
- Que bom te ver
de novo, que saudades!
Dizer
isso e abraçá-lo, não sei bem por quê. Mas, é claro, minha capa de postura
acadêmica apenas sorriu e lhe disse:
- Seja benvindo
ao Departamento.
Muitos
anos depois, conversando descontraídos sobre nossa amizade impecável, numa das
mesas do bar do décimo primeiro andar - onde nos encontrávamos, vez por outra,
entre horários de atividades acadêmicas -, trocávamos impressões sobre nossa
tremenda e mútua empatia. Foi quando tive coragem de contar a ele essa minha
primeira impressão. Ele sorriu, lembrou-se do encontro e disse maroto, com
aquela expressão que lhe é tão peculiar:
- Pois é, minha
amiga, quem sabe apenas nos reencontramos.
Décio
não é lá chegado a essas convicções. Sei que foi só uma brincadeira. Mas eu,
embora sem convicções religiosas, acredito piamente que não foi a primeira vez.
É afinidade demais para dar tão certo desde o primeiro olhar.
Não
há explicações acadêmicas, sociais ou cartesianas para o que nos uniu de forma
tão instantânea, fraterna e sincera desde o primeiro instante.
Fomos
parceiros de luta, ou melhor, de lutas. Fomos parceiros de cafés, de decisões,
de postos funcionais, de conteúdos acadêmicos, de confidências pessoais...
Mais
tarde, fora da universidade, continuamos a ser parceiros de vida, em vários momentos
fáceis e difíceis daqui e de lá. Comemoramos cada um de nossos encontros, agora
mais raros, por conta de duas vidas agitadas, cada uma a seu modo: ele ainda
acadêmico e eu no meu consultório e nos meus cursos. Mas as almas, com certeza,
uma vez irmãs, serão sempre irmãs.
É
difícil falar de Décio, mas é fácil representar esse sentimento. É só perceber,
enquanto escrevo estas linhas, meus olhos embaçados pelas lágrimas agradecidas
à vida por tê-lo conhecido.
Tenho
amigos assim. E quanto mais próximos, mais difícil transformá-los em
palavras...
Tim-tim!
Obs.: imagem - Facebook
5 comentários:
Eu acredito piamente em "reencontros". Embora não tenha nenhuma teroria a respeito. Acho que são almas e energias que se conhecem e se reconhecem. É quando dá aquele "quentinho" no coração. bjs
Realmente, quando isso acontece naturalmente o melhor mesmo é dizer: Que bom te reencontrar! Bjsss
minha amiga,
adorei estar no teu conto! Aliás, no nosso conto, né? Afinal, estamos construindo uma deliciosa amizade há muito tempo ... talvez mesmo há mais tempo do que eu imagino!E foi essa amizade que te inspirou! Esteja certa de que ela também me inspira.
bjs a vc,
décio
Acredito mesmo em reencontros... E como bom quando a gente sabe que eles avonteceram!
Meus amigos dão um colorido especial em minha vida.
Bom saber que vocês existem!
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