Ao escrever "O melhor presente", na semana
passada, 'as meias' vieram imediatamente a minha mente. E não sosseguei,
enquanto não escrevi sobre elas também.
Com certeza, Denise não
imaginaria que eu fosse escrever apenas sobre elas. De fato, outro dia, quando
me perguntou se eu ainda as tinha, não sabia que já estavam 'escritas e
fotografadas' para serem as atrizes principais de meu próximo conto.
Conto como foi:
Em 2002, tive uma
intempérie pessoal que fez com que me afastasse das aulas por um mês. Estávamos
em agosto, volta das férias, mas, por razões de saúde, não pude voltar
imediatamente.
Décio, meu amigo-irmão
de luta, fez questão de tomar minhas aulas da graduação para que nada fosse
mexido em minha vida acadêmica. Assim, por um mês, não precisaria pedir
licença. Tudo nos conformes, é claro, com a Diretoria do Instituto, na
Universidade. Combinei com os colegas que não deixaria de dar as aulas de pós
graduação. Como eram poucos alunos e como já tinha o hábito de trazê-los a
minha casa, pois os livros que necessitavam para pesquisar não existiam na
biblioteca, em princípio, não acharam nada demais.
Mas, ao me verem, com
certeza, notaram que eu não estava lá "essas
coisas". Não falaram nada, no entanto, e marquei os encontros do mês
em minha casa.
Denise, além de aluna,
era uma de minhas orientandas, na época. Reservada, aplicada, compenetrada,
séria. Na verdade, sempre me chamara uma atenção especial, mas sua quietude não
inspirava muita intimidade.
Saiu como os outros,
sem nada dizer. Na verdade, pedi que ficasse mais um pouco, pois aproveitaria o
dia para uma orientação de sua dissertação, do mestrado em curso. Afinal, como
orientadora, não poderia deixar de cumprir também este papel.
Falei-lhe rapidamente
sobre meu estado de saúde, mas garanti-lhe que não se preocupasse. Era coisa de
um tempo e tudo estaria bem.
Não notei que ela
notara a necessidade de agasalho. Eu sempre fui muito friorenta e, mesmo no
inverno carioca, eu sinto muito frio. Mas, naquele dia, estava especialmente
agasalhada.
Na semana seguinte,
após nosso encontro, Denise pediu para ficar mais um pouco, pois queria falar
comigo.
Quando todos foram
embora, tirou um pequeno pacotinho de sua bolsa e me entregou. Quando abri,
achei um par de meias de lã:
-
Eu mesma fiz, nesta semana, para que aqueça seus pés.
Eu tenho esse par até
hoje e o uso com parcimônia. Felizmente, o inverno do Rio não é mesmo rigoroso
e tenho certeza de que, com o cuidado com que o trato, este par vai durar o
resto da minha vida.
Uso sempre com muito
carinho e gratidão, pois, afinal, não há como descrever a emoção que senti no
momento e nem a que sinto, até hoje, a cada vez que o uso.
Após a brilhante defesa
de dissertação, Denise transformou-se em professora universitária, com todos os
louros que lhe convieram.
Mas, o melhor de tudo,
é que somos amigas até hoje!
Obrigada, Denise, por
ter aquecido de modo tão especial o meu coração.
Ah... já ia me
esquecendo:
Por essa, eu sei, você
não esperava... mas... poderia ser diferente?
Um comentário:
O carinho de um amigo não tem preço.
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