sexta-feira, 23 de maio de 2014

LÁ VOU EU DE NOVO...



Estava completamente convencida de que já tinha feito a minha parte.

Minha luta, quando necessário, há muito tempo passou a restringir-se à palavra escrita, às postagens semanais.

Achei que não teria mais "pernas mentais" para ir a manifestações, a encontros com políticos, participar de greves...

Não são as pernas físicas, felizmente ainda bem saudáveis. São as "pernas mentais".

Já fiz muito disso tudo, mesmo quando o temor avassalava minhas veias. O brio me impelia a ir a cada vez que a necessidade de luta se fazia. Assembleias, passeatas em frente ao palácio do governo...

Assim, pensei que tinha cumprido o meu papel. Se você leu "A saga", sabe do que estou falando.

Mas acabei indo, na semana passada, na onda do grupo dos aposentados, para falar, de novo, com os deputados sobre nossas condições como professores.

Uma professora amiga e eu nos encontramos no metrô e fomos juntas, em mais um esforço de luta. 

Confesso que pensei que se resumiria a isso, pois passeatas, manifestações já não combinam muito mais comigo... ou achei que não combinassem... no já apertadíssimo tempo de minha nova vida.

Juntou-se a nós um querido amigo, ainda na ativa.  Esse meu irmão bravo e guerreiro, esteve e está sempre presente, até hoje, em todas as manifestações, reuniões da Associação de Docentes, intervenções que oferecem ou exigem um espaço de política acadêmica. 

Como foi bom revê-lo!... aliás, este é um contato que sempre me negarei a perder e nos encontramos, vez por outra, quer em jantares gostosos de boas gargalhadas e conversas sérias, quer via mails ou papos telefônicos. Para nós, sempre haverá um tempo disponível, resultado de uma cumplicidade de acadêmicos, antes comprometidos com nosso trabalho sempre em dupla e... agora... espontaneamente comprometidos com nossa verdadeira amizade.

Enfim, às 14 horas, nos reunimos na calçada ao lado da Assembleia Legislativa, para as orientações de praxe, vindas do diretor da Associação de Docentes da Universidade, representada por um jovem professor que logo reconheci como um de meus ex-alunos.

No meio de nós, aposentados, aquele jovem de seus trinta anos (terá?), ar tranquilo e resoluto de quem sabe como luta, nos sorria.

Reconheceu-me, dirigiu-se a mim gentilmente, com olhos misturados de  "alunice", "coleguice" e cumplicidade.  Minha emoção começou ali mesmo.

Sempre acreditei na nova geração. Mas nunca a tinha presenciado desta forma tão segura e firme, tão sabendo o que quer, tendo passado, um dia, pelas minhas mãos!

E enquanto eu saboreava essa mistura de emoções como antiga mestre e atual colega, ele, em pé ao meu lado, distribuía tarefas, envelopes com documentos, apontava direções.

Voz  sensata e calma, discurso limpo. Uma sensação tão forte e gostosa, que não resisti. Quando ele acabou de falar, passei meu braço em sua cintura e falei meio engasgada, me dirigindo a todos: 

- Nossa! Meu ex-aluno!  

Meus colegas aposentados entenderam imediatamente o significado de tanta emoção. E quando levantei meus olhos úmidos em sua direção, encontrei os dele, tranquilos, seguros, úmidos e emocionados também.

E, claro, uma chama antiga de esperança e fé, depois de tanto tempo, renasceu em meu coração. 

- Ok, meu jovem, agora é a sua vez. Volto, para aprender com você.                               

Um comentário:

Carlos Alberto disse...

Emocionante ! Um exemplo de humildade e reconhecimento. Você sempre nos surpreende e sabe como penetrar, serenamente, em nossa alma. Agora,ele realmente está pronto.