sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

SINGELEZAS


Quando vou a Buenos Aires, a ida ao Rosedal é obrigatória. E vou a Buenos Aires muitas vezes, principalmente por conta dos cursos de Reiki. Geralmente, passo uma manhã ou uma tarde inteira passeando entre os mais diversos tipos de rosas, nesse jardim tranquilo e sempre encantador.

Ao fundo, o barulho dos carros que atravessam as avenidas de Palermo é a única lembrança de que estamos em pleno bulício de uma cidade grande. O que conta mesmo é o canto dos pássaros e o farfalhar do vento fresco, em plena primavera ou verão.

É bom voltar ao jardim, no meio das rosas, como quem não deixa de visitar um amigo, quando passa por sua cidade. Sento-me aqui e ali, desfruto os perfumes, as cores...






Da última vez, no entanto, uma coisa me chamou a atenção. Era um dia belíssimo e fiquei imaginando que, se eu fosse uma abelha, aquele seria o paraíso que a natureza teria criado para mim: tantas e tantas roseiras floridas a minha disposição. Comecei a procurar por elas e, incrivelmente, não consegui achar uma sequer voejando em torno de tão galantes princesas.


Havia ido tantas vezes ao Rosedal e nunca tinha me dado conta da ausência das abelhas. E é justamente nestes momentos, que a vida nos revela seus mais discretos segredos: baixando os olhos para umas florezinhas amarelas que brotavam sem cuidados pela relva, descobri minhas trabalhadeiras.


Ali, naquelas singelas florezinhas, despidas das honras que levam os turistas a esse portentoso jardim, é que se esconde a mais rica fonte de doçura e prazer para as pequenas abelhas. E voejavam insistentes e até afoitas, nas primeiras horas daquela manhã luminosa e gentil.

Não nas mais belas, perfumadas, vistosas e premiadas por concursos... não... justamente naquelas que ninguém vê, disfarçadas na grama, como que pedindo licença, nas beiradas dos espaços da nobreza.


Estava ali, onde quase não se nota, a mais pura e verdadeira riqueza desse jardim. 

Pequenos frascos... poderosas poções...


Obs.: para quem gosta de exposição de flores: a rosa lilás, foto exposta no texto, chama-se Meibrelon, de Michele Richardier, França. Recebeu o  primeiro prêmio, em 2005, como a rosa mais perfeita do jardim. O concurso ocorre uma vez por ano, na primavera.


3 comentários:

João Carlos disse...

Muito interessante, Lalinha.
No trecho em que você escrever "abelha" pela primeira vez, logo pensei justamente nisso: eu também nunca vi abelhas "visitando" rosas.
Na próxima vez, olharei para o chão.
Talvez me ocorra o mesmo que aconteceu com você.
Ao mesmo tempo, me veio um pensamento: "Ué... Já repararam que existe mel de tudo quanto é florada, menos de rosas?".
Dá o que pensar, né?
;-)
Bjs

Eulalia disse...

Acho que é porque elas são provenientes de enxertos e não de sementes... pelo menos, as que eu conheço e, por isso, não precisam da ajuda da natureza para reprodução.

São lindas, mas artificiais... como certas pessoas....


É a lição que levo, quando vejo coisas assim. E tento saber aproveitar a beleza, sem deixar que sobrepuje o essencial ;)

Celina disse...

Singelo é você ter olhos para ver esse detalhe. Passaria despercebido a muitos˜