Estou há quase três semanas às voltas com meu computador.
Quando penso que "ficou bom", ele inventa
outro problema.
Novinho, não completou nem seis meses. Não posso nem
dizer que ele está com problema de "junta" ("junta tudo e joga
fora"). Não é problema de hardware, é de software mesmo. Meu amigo,
que é um excelente especialista na área,
está apanhando com ele, em noites super generosas que passa aqui, comigo,
trabalhando na máquina para dar um jeito.
A terminologia configuração,
programas incompatíveis (programas novos com antigos - estes, sim, com
problemas de "junta"), sistemas,
downloads, settings estão povoando meu inconsciente e criando imagens em
meus sonhos. Noites curtas.
Acordo cansada, olho para a máquina e penso: caramba,
ainda falta resolver isso, aquilo, aquilo outro...
Como era nossa vida antes que essa parafernália
insolente surgisse em nosso cotidiano?
Dou a mão à palmatória, não posso negar: a vida era bem
mais difícil. Lembro-me de que escrevi minha tese de doutorado, na década de oitenta.
Eu mesma a digitava na "moderníssima
máquina elétrica da IBM". Quando errava, tinha o "moderníssimo corretor automático" para apagar a letra.
Tem gente que nem sabe o que é isso. Quem nasceu depois de 80, com certeza,
deve estar lendo esse parágrafo como se fosse em língua estrangeira. É coisa do
tempo de "vovô criança". Não
tinha "delete". Também não tinha como "copiar" e
"colar". Se errasse um parágrafo ou quisesse deslocá-lo do lugar, não
tinha jeito: era mesmo datilografar (a expressão não era digitar) toda a página
de novo. Quanto tempo perdido...
Agora é rápido e "indolor". Uma
maravilha!!!
Sem contar o fato do evento da internet!
Além disso, naquela época, algo parecido com um celular só em filmes de ficção científica...
Além disso, naquela época, algo parecido com um celular só em filmes de ficção científica...
Não posso negar. O mundo melhorou muito em termos de
comunicação. Quanta sofisticação simplificando a vida da gente! Mas sofisticação
traz, também, os mais sofisticados problemas...
Não tenho saudades do passado. Mas, quando me deparo com essas intempéries, não posso dizer que esteja num paraíso de presente.
Não tenho saudades do passado. Mas, quando me deparo com essas intempéries, não posso dizer que esteja num paraíso de presente.
É uma parafernália de HDs externos que ficam
incompatíveis uns com os outros, uns back ups impossíveis em maquinetas
sofisticadas. Dá a impressão de que comandam a sinfonia e também a nós, seus
donos, condenando-nos a noites de insônia até que elas resolvam se entender.
Não é a competência do técnico colocada em jogo.
Longe disso. É a super competência da máquina rebelde a seus comandos. É o
preço cobrado em escravidão, em busca de maiores confortos, seguranças e sucessos.
Sou rebelde. Acho que a máquina tem de nos obedecer e não nós a ela. Mas
enquanto não nos escravizamos a sua linguagem, não conseguimos dominá-la. Que
contrassenso!...
O objetivo é facilitar o trabalho. Mas a luta até
que a máquina obedeça a nossos interesses é árdua. No meu caso, impede a
leveza, tira o tempo para soltar as rédeas da imaginação e dos textos, atrasa o
trabalho, interrompe a fluidez do cotidiano. Meu livro está parado. Meus textos
estão saindo aos trancos...
Outro dia, vi uma tirinha de jornal muito
interessante, sobre a civilização invadindo as tribos indígenas totalmente
desligadas da tecnologia: no primeiro quadrinho, homens brancos trazendo notes,
celulares, impressoras e um bando de outras tecnologias para os índios que os
olhavam curiosos:
-
Estamos trazendo a modernidade para vocês.
No segundo quadro, os índios estavam recebendo todos
os "presentes" e o homem branco dizia:
- Daqui a um mês, traremos pílulas para dor de cabeça.
- Daqui a um mês, traremos pílulas para dor de cabeça.
Ri muito. Dizem que a tecnologia veio para resolver
todos os problemas que tínhamos antes. Resolveu. Mas trouxe, também, um monte
de problemas que não tínhamos. É verdade!
Como todos (quase todos), no entanto, me rendo a
essa tecnologia. Ela veio mesmo para nos colocar adiante. Não fosse ela, sequer
eu estaria escrevendo para você agora!
No momento, no entanto, só consigo pensar:
-
É... mas a que custo!
Que o leitor me perdoe. É um desabafo.
Quando tudo estiver funcionando, novamente, talvez
eu nem me lembre do pesadelo que me fez escrever esse texto.
Tomara!