sábado, 28 de dezembro de 2013

QUANDO O SOL...


Quando o sol do primeiro dia do ano iluminar sua face, lembre que você nasceu para ser feliz;

 
Quando o sol esquentar seu corpo, no frio do inverno, lembre que ele foi feito para te trazer vida e conforto;
 Quando o sol exagerar sua força, no alto verão, lembre que haverá sempre pessoas que o preferem à neve ou ao frio, e seja paciente. Ele passará;

 
Quando o sol se ausentar de sua alma, congelando seu coração, lembre que ele voltará;
 Quando o sol esquentar mais do que o necessário, secando sua vida, lembre que, às vezes, é preciso atravessar desertos para encontrar paradisíacos oásis;

 
Quando o sol se esconder por trás das nuvens, deixando sua vida sem esperanças, lembre que ele ainda continua a brilhar longe de seus olhos, mas sempre perto de seu coração.

 
E agradeça, a cada dia, pelos presentes iluminados que recebemos da vida, muitas vezes, de forma desapercebida.

sábado, 21 de dezembro de 2013

CONTO DE NATAL


 Um menino azul me disse 
que eu nunca acreditasse
em toda essa crendice
que conta, em tons de verdade,
que um  menino azul existe...

Mas sobre Papai Noel,
aquele bom velhinho,
que enfeitou tanto a nossa infância,
ele nada disse.

(julho de 1976)

sábado, 14 de dezembro de 2013

TEMPESTADES



O Rio está dominado pelas tempestades. 

Antigamente, eram tempestades de início de ano, invariavelmente em janeiro. Depois... "as águas de março, fechando o verão"...

Para acompanhar o desarranjo do mundo, elas resolveram vir agora, avançadas na época, mas com o mesmo desastre de sempre...

Na quinta passada, saí do consultório bem tarde e a chuva me pegou em cheio. Nessas horas, os taxis somem e, mesmo morando perto, foi um estirão a pé, de quinze minutos terríveis, com rajadas de vento e água por todos os lados e ruas inundadas que dispensam descrições. Todos os cariocas sabem como foi. Os não cariocas... bem... melhor poupá-los da novela. Não vale a pena.

Mas me lembrei de um aperto pior do que esse, que passei há muitos anos atrás. Estava recém concursada na universidade pública, onde passei a dar aula, a partir de 1986. Era março. Haja chuvarada... e... sempre com hora marcada: Final de noite. O toró vinha forte, muitas vezes interferindo na alimentação elétrica do campus universitário. Aulas suspensas.Mas nem adiantava tentar sair dos prédios em direção à casa. A região toda inundava e para quem conhece a área, a Praça da Bandeira, que vira um rio até hoje, era e é passagem obrigatória. 

Mas eu era novata e não sabia bem do perigo. Naquele dia, a chuva mal começara, achei que dava para passar. Peguei o carro e embiquei rumo à zona sul. Mas logo vi que não tinha embicado... eu tinha mesmo era embarcado. 

Não havia dez minutos de chuva e eu já percebera que não iria dar mais para passar. Também não dava para voltar. A água subia numa velocidade inacreditável a minha volta e eu tinha de tomar um atitude imediata. Pela primeira vez, depois de ter enfrentado muitas chuvas na direção, eu estava totalmente aterrorizada.

Para quem conhece a área, sabe que há o viaduto que passa para São Cristóvão, aquele que vai dar na Quinta da Boa Vista.Virei o carro nessa direção e subi o viaduto. Dei um tapinha no lombo do cavalo... ops... no painel do carro e murmurei:

- Pronto, aqui estaremos salvos.

Mas logo vi que não. O fato de eu ser a única pessoa a parar em cima do viaduto para esperar a chuva passar me deixou desconfiada. Embora parecesse o lugar mais seguro para se ficar, os dois motoristas que conseguiram também chegar ali, não pararam no viaduto. Pelo contrário, me fizeram sinal para seguir em frente.

Bem, quem sou eu para discutir... mas logo percebi: tudo às escuras, numa região de pouca segurança, ali não era o melhor convite para estacionar. Ficar sozinha em cima do viaduto, só esperando a chuva passar talvez fosse pedir por um assalto. Naquela região erma... nunca se sabe. E como eu moro na zona sul da cidade e ali era o norte, ainda pouco conhecido por mim... bem... melhor seguir o conselho dos demais.

Desci o viaduto, dando no outro lado, o tal onde fica a Quinta da Boa Vista. A situação não era tão aterradora quanto a da Praça da Bandeira, que simplesmente enche até cobrir os veículos. Mas deixava muito a desejar em termos de tranquilidade. Tudo alagado e, se o temporal se estendesse, com certeza, haveria água para encher o carro. 

O pior é que, novata na área, eu não sabia para onde ir e, então, como diz o senso popular "fui indo, fui indo", pois não havia outro jeito. 

Na verdade, nem sei se saberia fazer o mesmo percurso novamente. Só sei que, lá pelas tantas, dei num lugar que me pareceu ter uma calçada um pouco mais alta. Voltei o volante do carro, melhor dizendo, o "timão do meu "barco" naquela direção.

É nessas horas que tenho mesmo certeza de que tenho um anjo aventureiro. Aquele tal... Se você é um leitor assíduo, deve se lembrar dele em contos como "Golpe de Mestre", "Senta que lá vem história" e outros mais.

Pois então. Foi ele que, no meio desse caos, com a vista turva por um para-brisas embaçado e coberto de chuva torrencial, soube me fazer enxergar esse cantinho de terra, essa ilha paradisíaca, preparada pelos deuses. 

Subi com o carro e parei nada mais, nada menos do que na porta da Décima Sétima DP, em outros termos, a Delegacia de Polícia de São Cristóvão.  E eu tinha estacionado no lugar reservado aos carros policiais.

Seja o que os deuses quiserem. E... afinal... eu tinha o anjo... que, você já sabe, se me põe em apuros, dá um jeito de me tirar depois.

Desliguei o carro, saí e me dirigi para a porta da DP com o melhor dos meus sorrisos. Esperava encontrar um terror. Afinal, eu estava entrando numa delegacia e meu imaginário, é claro, pintou os piores quadros possíveis. Mas o caos do temporal era tamanho que... caos por caos... melhor me apresentar antes que eles cismem de me tirar dali... e... então, definitivamente, eu não saberia para onde ir. Eu não tinha a mínima ideia de onde eu estava, dentro do mapa do Rio de Janeiro! E, naquela escuridão, nem que eu quisesse, saberia como sair dali, quanto mais buscar os melhores caminhos. 

Imaginei um delegado de bigodes negros e expressão de dar medo a qualquer cidadão. Não sei por que, sempre imaginei os delegados assim. Talvez porque o de Portugal, que aparece no conto Golpe de Mestre tivesse bigodões. Talvez fosse por isso, mas não me lembro.

Entrei. Sentado a uma mesa, um único personagem. Um senhor de aparência que poderia ser até simpática levantou os olhos por cima dos óculos, quando me viu. Apressei-me:

- Boa noite. O Sr. Delegado, por favor.

- Eu mesmo. O que deseja?

Não era possível. Imaginem, um homem comum! Até quase simpático. Tomei coragem e arrisquei: 

- Sr. Delegado, preciso que me prenda até que a tempestade passe! 

Ele sorriu e entrou na pilha: 

- Para prendê-la preciso de uma acusação.

- Eu estacionei em área designada aos carros policiais. 

Ele sorriu novamente. Depois inventou uma cara malvada: 

- Considere-se presa. Você tem direito a apenas um telefonema. Ah... e um café. 

Nem me passou pela cabeça recusar o café, embora imaginasse que um café de delegacia deveria ser um horror de ruim. Mas eu não me ariscaria a recusar a gentileza nem por um decreto.  Usei o telefone para ligar para casa. Afinal, eu iria mesmo sumir por um bom tempo, até conseguir voltar. Naquela época, celulares não existiam nem em filmes de ficção científica.

Tão logo acabei de telefonar, fui brindada com um cafezinho quente, feito na hora... e... estava uma delícia!

A delegacia estava tranquila naquela noite. Testemunhei apenas uma ocorrência de um rapaz que entrou algemado, trazido por policiais e acompanhado por um senhor, provavelmente, o cidadão lesado. Mas fui poupada de assistir os depoimentos, pois foram levados para uma sala ao lado.
 
Fora isso, ficamos de papo, o delegado e eu. Ele me ensinou como enfrentar as tempestades da região, a partir de então: 

- Sempre que chover forte, espere passar. Conte uma hora e quinze minutos e, só então, pode sair. Antes disso, a Praça da Bandeira estará intransitável. 

A partir daquele dia, em caso de tempestade, eu já sabia: uma hora e quinze minutos depois do último pingo de chuva era o comando para poder voltar para casa. Mas, naquele dia, só mesmo meu anjo para me colocar nas mãos de alguém que pudesse me ajudar. Provavelmente, o único na área...

É engraçado como sempre tive sorte nos meus encontros com policiais. Se você leu "O Detetive" e "O Policial", há de concordar comigo...

A região ficou transitável apenas em torno das duas da manhã. E como boa cidadã que fui, totalmente comportada, o delegado me liberou do delito de estacionamento impróprio, com um sorriso: 

- Da próxima vez, se tentar se arriscar e der com os costados por aqui, vou ser mais rigoroso... em vez de um café, vou colocar você atrás das grades mesmo! 

Depois, chamou dois policiais e deu instruções para que escoltassem meu carro até o centro da cidade, mais especificamente, a Av. Presidente Vargas, altura da Central. 

- Não sei como agradecer. Eu teria dificuldade para encontrar o caminho. Não sei bem onde estou. Na verdade, nem sei como vim parar aqui.

- É... os presos sempre dizem que não sabem como vieram parar aqui.

Sorrimos ambos. 

- Mas no meu caso, tenho certeza de que foi um anjo me colocando nas mãos de outro. 

Ele me olhou com olhos de pai: 

- Tenho uma filha mais ou menos da sua idade... 

E tentou fazer uma cara séria: 

- Não vá se colocar em apuros outra vez! 

Saí dali escoltada, ou melhor, orientada por um carro policial que me deixou exatamente na altura da Central do Brasil. Dali, era caminho bem conhecido: seguir em frente, pegar o Aterro do Flamengo, atravessar o túnel para Copacabana e estar em casa.

Cheguei já bem esquecida do medaço que me deu, de me ver rodeada e ameaçada pela água, no início do temporal. Pelo contrário, algo dentro de mim estava em festa, esse tipo de festa que invade a gente, quando encontramos almas alegres, generosas, acolhedoras... que nos fazem tanto bem.

Não conheci mais nenhum delegado de polícia, depois disso. Dizem que tirei a sorte grande naquela noite. Pode ser. Só sei que não penso mais em delegados com caras ferozes e de bigodes pretos. Não faço mais ideia de como sejam. Para mim, podem ser como forem. Na verdade, espero não precisar conhecê-los, sob qualquer circunstância.

Aquele, no entanto, de rosto compenetrado e gentil, com uma filha da minha idade, que me serviu um café delicioso e entrou no espírito da brincadeira desde o primeiro minuto, ficará para sempre na minha lembrança... com meu coração agradecido. 

sábado, 7 de dezembro de 2013

É TÃO BOM!


Quarta-feira. Tirei o dia para me encontrar com amigos.

O almoço foi simplesmente uma delícia. Rever Claudia e Eugênia reinaugurou, mais uma vez, a festa que se faz dentro de mim. É incrível como este trio consegue conversar de tudo com o mesmo viço e alegria com que o fazíamos nos tempo de nosso trabalho conjunto na Universidade.

Qualquer assunto se torna interessante, desde os acadêmicos, até as histórias de vida, as fofocas e mesmo a cor de esmalte das unhas. Em quatro horas, que passaram num segundo, revivi o mesmo brilho de olhar, que encontro só nos meus amigos mais queridos...

Emendei o dia com um jantar com Dani, de assunto completamente diverso, mas de mesmo frescor... e... para coroar a noite, um encontro com Katia, para uma sobremesa de tons delicados.

Fiquei pensando numa metáfora plausível para traduzir o sentimento perfumado com que voltei para casa à noite.

Perfumado... sim, como se eu visitasse meu jardim particular de amigos, um jardim onde você não colhe as flores para escravizá-las em sua sala de visitas, pois murcharão depressa, alimentadas apenas pela água singela de um vaso qualquer.

Não, nada disso.

Desfruto o saboroso prazer de visitar meu jardim, sentir o perfume diferenciado de cada flor, em seu belíssimo resplandecer ao sol. Flores que posso revisitar em lembranças de dias seguintes, sorrindo de suas presenças em meu coração. Saber que estão lá, bastando abrir minha porta para encontrá-las nesse meu jardim, à distância de um mail, um telefonema, um "oi" qualquer. 

Saber, simplesmente, que existem!...

Não me lembro, mas é bem provável que, em um ano já perdido no tempo, eu tenha pedido bons amigos a Papai Noel. E como acredito piamente nesse bom velhinho, ele foi especialmente condescendente comigo, brindando-me com os melhores.

Talvez seja por isso que dezembro seja, para mim, um mês especialmente abençoado.

Desde os primeiros dias, é o mês escolhido para que eu possa revisitar de bem pertinho, pessoalmente, meus queridos e insubstituíveis amigos. Separo em minha agenda almoços, lanches e jantares... ou apenas encontros em um lugar qualquer, para que eu possa saborear, sentir e reviver o perfume desse lindo e inominável buquê de minha vida.

E volto para casa, a cada vez, inebriada com o suave e saboroso prazer de revê-los, ouvi-los e tocá-los, esquecida da desarticulada e enlouquecida vida que nos incute este cotidiano maluco de cidade grande.

Dezembro está começando e, apressada, já o iniciei sentindo meus primeiros perfumes.

Olho minha agenda e antevejo que magníficos encontros já marcados me aguardam. Este maravilhoso e multifacetado buquê com que me brindo, vaidosa, compondo o melhor dos presentes que dou, a mim mesma, a cada ano.

Um buquê composto dos mais variados tons - do singelo ao sofisticado, do despretencioso ao requintado -, dependendo das nuances de cada flor, mas... sempre marcado por tons e perfumes suaves e amenos... um buquê pleno em sua essência.

Tão bom... tão bom!!!