sábado, 31 de agosto de 2013

VIAJAR


NA VOLTA EU CONTO!
DIA 21, SEM FALTA!


sábado, 24 de agosto de 2013

SE MEU CASACO FALASSE


 

Julho de 1977. Preparada para realizar um dos maiores sonhos de minha vida, arrumei as malas para visitar a Grécia. Por puro desencargo de consciência, joguei na mala um casaquinho comprado às pressas. Evidentemente que não foi necessário usá-lo para sustentar os 40 graus que enfeitam a Grécia nessa época do ano. Naquele ano, então, muito especialmente, foi um verão de rachar até para os gregos.

Dez dias depois, com meu coração morrendo de vontade de ficar muito mais, embarcamos, meu ex e eu, para Londres. No aeroporto, apressei-me o mais que pude para sair: que ar condicionado forte!!!

Mas... não era ar condicionado. Era aquilo mesmo a proposta de veraneio em Londres.  Santo casaquinho. Quando comentava com algum inglês sobre a cidade, só tive elogios a dar, mas com uma ressalva:

- O seu verão é muito inverno para mim.

Felizmente, a resposta que ouvia, me incitava a voltar em outra época:

- Está um pouco fresco para nós também.

De fato, quando fui a Londres, também no verão, em outra oportunidade, além do meu casaquinho, levei roupa um pouco mais pesada. O casaquinho, no entanto, foi mais do que suficiente.

Como voltei à Europa em alguns verões, entre as décadas de setenta e noventa, o tal casaquinho passou a fazer parte integrante da minha mala. Usei-o muito, evidentemente, dependendo da hora ou lugar.

Depois disso, a partir de 1990, quase o aposentei. Saiu de moda e passei a usá-lo só em casa.

O casaco, no entanto, parecia ter vida própria. Era só eu arrumar uma malinha e, pronto, quando me dava conta, ele estava lá dentro.

E acabou revivendo para o mundo, através de minha viagens. É engraçado como quase não o uso no cotidiano. Uso mais em casa e... em minhas viagens.

E quantas viagens ele viveu entre fugidas para descanso ou para trabalho (em palestras pelo Brasil e congressos no exterior, principalmente depois de 1995)!

Pensei nisso ontem, ao arrumar minha mala para minhas próximas férias de duas semanas, que começam amanhã. Quando me dei conta, pronto! Lá estava ele, bem dentro da mala, num canto que ele reservou, como cadeira cativa, para o teatro da vida!

Sem dúvida, ele nasceu aventureiro e pula para dentro da mala, ao menor sinal de viagem.

Ah... se meu casaco falasse... quantos contos ele teria para contar... E como está sempre em forma, nem aparenta a idade que tem! Eventualmente, quando o uso, alguém comenta:

- Que casaquinho lindo, como cai bem em você!

Aos 36 anos (mais da metade da minha idade!), permanecendo inteiro e cheio de vida, só posso concluir que é a aventura que lhe mantém o viço, a vontade singela de saber viver.

Vamos ver o que o aguarda, desta vez!

Quem sabe, se eu tiver um tempinho, ainda conto um pouco de lá mesmo. Caso contrário, me aguardem na volta com as novidades.


Obs.: Foto - eu e meu casaquinho entrando no Museu Britânico (1977 - foto de W. Fernandes).

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

ÁRVORES E GOLFINHOS


Estamos em pleno inverno carioca. Um inverno típico de nossa terra, que oscila entre os 18 e os 28 graus. Neste ano, chegou aos 15 e quase viramos picolé. Mas, dia ou outro, por exemplo, temos inesperados e bem-vindos 30 graus. Praia e sol.

Andando pelo calçadão, em minhas caminhadas diárias, tenho a meu dispor e encanto uma paisagem de sonhos: mar, uma areia sem fim, árvores... no meio do bulício da cidade grande. Foi quando notei que as amendoeiras começam a dourar.

É certo que estamos próximos da linha do Equador e, por isso, nosso clima semi-tórrido não ostenta, com limites nítidos, a mudança das estações do ano, como na Europa, por exemplo.

Assim é que a natureza que nos cerca toma suas licenciosidades e, no nosso quase final de inverno, elas resolveram ostentar sua folhagem outonal.

Umas mais apressadas, outras não (como os seres humanos), suas folhas começam a dourar e a cair, enfeitando, ainda que timidamente, nossas ruas.

Somos mesmo um país imenso e cheio de identidades, que se alonga através das linhas equatoriais e meridionais: enquanto neva na região sul, o norte sofre a seca do verão nordestino. Menos de zero graus no sul, quase 40 ao norte, tudo num dia só.

E aqui no Rio, onde o inverno toma conta pedindo tímidas licenças, nossas amendoeiras cismaram que estão no outono. E acolho, enternecida, o compassado ritmo de seus corações.

Não creio que elas estejam atrasadas. Elas são as únicas donas de suas horas.

Na verdade não sei se antigamente as estações eram melhor definidas ou se isso acontecia apenas no continente europeu. Não tenho conhecimentos profundos sobre o assunto, mas sei que, neste ano, todos comentaram que a primavera europeia se atrasou. Nevava em pleno abril e as tulipas holandesas não floresceram no mês esperado. Pelo contrário, acordaram quase um mês depois, mostrando que não são os homens que, reservando hotéis e distribuindo panfletos turísticos, determinam quando Keukenhof tem de ser visitada. As tulipas, se eles querem saber, é que comandam o espetáculo.

Sinais dos tempos? Não sei. Acho que a natureza também está um pouco cansada dos relógios humanos. Está estabelecido que abril (no hemisfério norte) é mês em que as flores tem de aparecer. E... se não aparecem, os seres humanos dizem que a primavera está atrasada. Acho muita graça nisso pois é a natureza que está atrasada em relação ao tempo que é determinado pelo homem e nunca o homem é que se dá conta de que ele é que deveria ser o observador do que a natureza lhe diz e... acertar o "seu" relógio por ela.

Quando fui a Fernando de Noronha, anos atrás, havia uma excursão para ver a chegada dos golfinhos à baía. O folheto instruía os turistas, dizendo que o ônibus passava nos hotéis e pensões às 4 horas da manhã, pois os visitantes tinham o direito de ficar no mirante apenas das 5 às 6, hora determinada pelos biólogos para que a área de preservação geológica pudesse ser visitada. Todo o resto do dia era de entrada exclusiva dos pesquisadores. Alertavam, no entanto, que esta era a hora aproximada de entrada, mas não podiam garantir o sucesso do espetáculo.

Perguntei a um nativo da ilha se o passeio valia a pena.

- Não sei lhe dizer... os "estudiosos" dizem que eles entram na baía entre as 5 e 6 da manhã, mas... os golfinhos não usam relógio...

Não fiz o passeio.

Quando busquei o passeio de barco, já mais espertinha, fui direto ao cais, em busca dos pescadores, porque tinha ouvido falar que quando os golfinhos voltavam para o mar alto, com um pouco de sorte, os barcos poderiam vê-los e era um espetáculo muito interessante admirá-los circundando as embarcações:

-  A que horas, mais ou menos, os golfinhos saem da baía para o mar alto?

- Os "estudiosos" dizem que entre meio dia e uma hora.

- Mas o que você diz?

- Eu digo que, hoje, se você pegar o barco das 13, terá alguma chance.

- Por quê?

- Porque eles entraram mais tarde.

Fui atrás do pescador e  peguei o barco das 13horas. Na volta do passeio, já em torno das 14horas, tive um incrível e inesquecível espetáculo de golfinhos a minha volta, tão perto e tão emocionante como só uma visitante apaixonada pela natureza, como eu, pode ter.


Ao admirar a beleza da amendoeira enrubescida, meus pensamentos vagavam entre árvores e golfinhos, entre homens e seus relógios cronometricamente acertados de acordo com os critérios dos observatórios nacionais do mundo todo.

Textos científicos, análises biológicas, movimentos verdes...

Mas... onde está aquele olhar de filho (o olhar daquele pescador), observando o que, do fundo do coração (e não do fundo da análise química de suas entranhas) esta gloriosa e inefável mãe natureza tem a nos dizer e a receber de nós?

Talvez nossa grande mãe esteja muito cansada do andar das horas científicas, dos acertos cronométricos de suas atitudes, dos movimentos de massa, mesmo que a seu favor.

Mãe gosta de ouvir a voz de cada filho, em particular. Gosta de sentir o beijo de cada um, de cada um de nós, em nossos cuidados.

Acho que está faltando ouvirmos o ritmo descompassado e exausto de seu coração, de cuidarmos dela de fato (!)), com verdadeiro carinho e com os festejos de quem está atendo e observa seus passos, com os olhos da alma, como ainda o faz aquele sábio pescador.

domingo, 11 de agosto de 2013

PAI


Dia dos pais. Quantas coisas podem evocar o significado dessa palavra para a cultura em que vivemos.

Pai.

A figura do pai, tão essencial à formação psicológica do ser. Não me refiro ao pai biológico, embora ele possa encarnar (e deve!) o que quero dizer. Refiro-me à referência masculina, ao símbolo forte que representa em nossa personalidade.

Que modelos de pai buscamos no decorrer de nossas vidas, através de imagens, vivências, circunstâncias...

Posso dizer que tive muitas, entre os meandros de minha vida, que me fizeram mais forte, mais centrada, mais guerreira (por que não dizer viril, no sentido psicológico do termo?), mais inteira e mais segura.

Mas... nada como o reconhecimento da paternidade, da conscientização primeira, do confronto com a própria existência que faz de um homem sentir-se pai.

Em tempos antigos, os reis, os patriarcas precisavam acolher o recém nascido no colo para que este simbólico gesto pudesse representar o reconhecimento da paternidade. E, só então, todo o reino entrava em júbilo pela vinda de mais um herdeiro.

Hoje, quando vejo um pai embevecido em seu primeiro contato com seu filho ou sua filha, percebo a imensidade psicológica do momento e vejo que a situação se inverte: não é mais o homem que reconhece sua herança, mas o homem que se conscientiza de seu posto de pai, posto que lhe é legado por um pequenino ser frágil, que lhe chega aos braços.

É o filho ou filha que o faz pai. Ao contrário de uma visão mais antiga, quem recebe a coroa é o pai e não vice-versa. É a vinda do filho ou filha que o faz sentir-se, enfim, rei em toda a dimensão terrena de ter completado o ciclo familiar a que veio.

E faço uma homenagem especial a esta foto, que tive a sorte de captar, no momento do primeiro contato embevecido de um pai, contemplando, pela primeira vez, sua filha.

E a foto revela, por si mesma, quem coroa quem aqui...

Aos pais que são verdadeiros pais, meu espaço de hoje.

domingo, 4 de agosto de 2013

DIAGNÓSTICO



Ok. Concordo. Virou nossa vida de cabeça para baixo. Bagunçou tudo por aqui. 

Quem mora ou trabalha em Copacabana sentiu na pele todo o desconforto que foi conviver, na semana passada, com o evento da JMJ. Um bairro apertado, com mais de um milhão de habitantes em seus 4 quilômetros de comprimento. Se todos os moradores resolvessem sair às ruas ao mesmo tempo, já teríamos um quadro de deslocamento inviável. Com tantos visitantes então...

Recebemos milhares de convidados jovens, num trânsito frequente, durante uma semana. E nem me refiro aos três milhões dos dois últimos dias. Refiro-me apenas às centenas de milhares que povoaram o bairro, andando o dia todo de cá pra lá e de lá pra cá. 

Sou moradora e também trabalho no bairro. Vivi o transtorno... mas... quer saber? Gostaria de ter uma JML por ano!...

Explico por quê: nosso bairro nunca esteve tão alegre e... também.... nunca esteve tão limpo! Não deveria ser o contrário? Pois não foi. 

No quesito limpeza, foram os dias mais limpos desde os primeiros anos que me mudei para cá. E fiquei intrigada com essa situação, até porque nas conversas que ouvia por aqui, moradores rabugentos (outros nem tanto...) comentavam:

- Isto vai ficar uma sujeira! Imagine! Cinco dias em ritmo de reveillon!

Acho que foi por causa disso que a limpeza me chamou a atenção. E como ia e vinha de casa para o consultório quatro vezes por dia, entre muitas coisas, o quesito limpeza acabou fazendo parte importante na observação retratada em minhas fotos.

Onde quer que eu fosse, de dia ou à noite, antes de os garis fazerem a sua ronda, ao contrário das expectativas da população local, o que eu percebia eram ruas e calçadas limpas!



 






Ao voltar do consultório, à noite, notava que o chão dava muito pouco trabalho aos garis



Embora o lixo fosse resultado do uso de milhares de pessoas por dia, eles se acumulavam nos lugares certos


 Dizem que havia lixo na areia, principalmente no último dia. Bem... no último dia, com três milhões de pessoas entulhadas na praia de Copacabana, duvido que alguém conseguisse andar pela areia atrás de alguma lixeira. Na verdade, eu nem sei onde eles arranjavam espaço para balançarem seus braços quanto mais para caminharem.


De qualquer modo, o resultado da coleta do lixo foi a de que se recolheu, em toda a semana, um terço de lixo que se recolhe no dia 01 de janeiro, depois da noite do Reveillon! Uma semana inteirinha, imagine!...

De onde vem, então, tanto lixo diário, já que nosso bairro está longe de ser um exemplo de chão limpo? Dos jovens da JML não é já que deram um banho de civilidade, aliás, não só no quesito limpeza; dos moradores não pode ser, já que estávamos aqui o tempo todo, durante a semana, e as ruas, calçadas, esquinas e recantos permaneceram limpos... 

Quem, afinal, então, polui nosso bairro?

Com essa pergunta na cabeça, saí os primeiros dias depois do evento, com minha máquina em punho. E parece que fiz umas descobertas interessantes... 

O evento acabou no domingo. Comecei a tirar fotos na quarta-feira. Que tipo de lixo temos? Fiquei supreendida com a resposta: nosso lixo vem, predominantemente de restos de lanches - copos, canudinhos, papéis de balas, biscoitos - além de panfletos rejeitados pelos transeuntes, depois de recebe-los dos inumeráveis panfleteiros de nosso comércio.





Detalhe:

Os canteiros onde moram nossas árvores, voltaram a servir, essencialmente, de cinzeiros ao ar livre, tantas guimbas de cigarro foram encontradas por ali, sem contar com o lixo, de modo geral.


Mas esse lixo não estava ali na semana passada e, com certeza, a limpeza desses lugares não se deu por conta de rondas extraordinárias de garis. Eu estava por aqui o tempo todo e notei que eles só apareciam mesmo no final do dia.

Fora os panfletos (os panfleteiros não trabalharam na semana do evento), todo o resto do lixo, durante aquela semana, poderia ter sido depositado por moradores e pelos visitantes da JML... e não foi, visto que o bairro apresentou uma limpeza exemplar.

Então, minha hipótese repousa nos visitantes - trabalhadores de outros bairros da cidade que para aqui vem em busca de seu ganha-pão, e as pessoas que vem usufruir do nosso comércio e nossos serviços que são muitos (consultórios médicos, academias, escolas, cursos, lojas...). Esta hipótese coincide com o tipo de lixo: restos de lanches. Os moradores dificilmente fariam "lanches" nas ruas, já que moramos aqui... 

E os jovens que teriam tudo para se espalharem numa expectativa esperada de "má educação, tumulto e bagunça" deram a todos uma aula de alegria, postura e bons princípios. Fossem eles de fora ou daqui, comportaram-se com "gente grande", como afirmaria o dito popular.

Posso concluir, portanto, que muita "gente grande" está precisando de uma boa aula de "boas maneiras" dessa juventude que enfeitou nosso bairro na semana passada. 

É por essas e outras que, salvados os transtornos, pela alegria que compartilhei, pela limpeza e pela energia de vida e de luz com que convivi nesse dias, posso afirmar, independente de qualquer credo ou religião:

- Quero minha JMJ de volta!!!...